Arenas e clubes de futebol aceleram parcerias com startups e hubs de inovação
No país onde o futebol reina soberano, uma nova demanda passa a ser incorporada na gestão de clubes e arenas desde o fim da pandemia: a estratégia de inovação. Os últimos três anos foram marcados por diversas iniciativas criadas no Brasil para conectar essa indústria bilionária ao mercado de startups, como novos hubs esportivos nacionais e programas de inovação aberta. Tanto o Grêmio de Porto Alegre como a Arena, que sedia suas partidas, buscaram o Instituto Caldeira para acelerar esse tipo de conexão.
Na era da transformação digital, estratégias inovadoras de longo prazo se tornaram cruciais não apenas para garantir o alto rendimento dos atletas, mas também para engajar uma audiência cada vez mais conectada e otimizar processos internos.
Segundo especialistas, incorporar a cultura da inovação na indústria do esporte, e de maneira transversal, não apenas no futebol, é um passo importante para que as entidades sejam marcas mais competitivas e profissionais.
Em maio de 2023, o tricolor de Porto Alegre lançou o Grêmio I9, em parceria com o Instituto Caldeira, para atrair startups que apresentam soluções aos gargalos do Clube, através de Provas de Conceito (POCs). O projeto está sediado no hub gaúcho desde então.
“O Grêmio quer mostrar que pode ser muito mais do que um clube convencional. Por isso, temos a obrigação de fazer projetos que vão além do futebol e que nos coloque na esteira da inovação”, disse Thiago Baisch, que assessora o Clube nessa missão, durante o lançamento do Grêmio I9.
Neste ano foi a vez da Arena do Grêmio procurar o Instituto Caldeira. A gestora entrou para o novo ciclo do Conecta Caldeira, programa de inovação aberta do hub, na intenção de encontrar startups que otimizem a experiência de pagamento dos torcedores nos jogos. (confira o desafio)
“Há uma certa fricção nesse processo, pois a compra online é um grande desafio. Buscamos o hub para provocar startups e encontrar fintechs que nos ajudem a tornar a experiência do torcedor mais fluída”, explica Paulo Rossi, diretor de operações e facilities na Arena Porto-Alegrense S.A.
Este, no entanto, não é o primeiro contato da Arena do Grêmio com o ambiente de startups.
Durante o tempo de isolamento social provocado pela Covid-19, Rossi explica que aproveitou para se capacitar no mundo da inovação: fez cursos sobre gestão ágil, data driven e governança de dados. Quando voltou ao presencial, sua missão foi disseminar essa nova cultura às lideranças da empresa que controla a Arena do Grêmio, Fonte Nova e Arena das Dunas.
Surgiram então dois grandes desafios para serem atacados por startups: a gestão de autônomos em dias de jogo e shows e a criação de uma plataforma para orientar o torcedor a chegar no estádio sem pegar filas. Cerca de 25 startups participaram do desafio e as duas selecionadas já tiveram suas POCs aprovadas.
No caso da POC dos autônomos, a vencedora foi a Sirros IoT, startup da comunidade Caldeira. A solução apresentada foi um sistema automatizado que envia os convites e faz check-in e check-out dos temporários. São cerca de mil autônomos em dias de jogo e shows na Arena. Antes o processo era manual.
O que aprendemos com essa relação com as startups é a cooperação. Não fazemos nada sozinho, precisamos estar alinhados aos ecossistemas. A palavra chave da inovação é interoperabilidade.
A maior comunidade de inovação no esporte do Brasil
Há também diversas iniciativas que nasceram no centro do país, mais precisamente em São Paulo, para desenvolver a indústria do esporte, com foco em inovação. A maior e mais relevante até o momento é o Arena Hub, criado há três anos e sediado no Allianz Parque, formado por mais de 170 entidades esportivas associadas. Entre elas, além de times de futebol de todas as divisões, há marcas como NBA e UFC.
Embora países europeus, norte-americanos e asiáticos estejam mais avançados quanto à cultura da inovação esporte, as dores das indústrias esportivas são globais: aumentar o rendimento de atletas, produzir conteúdo relevante, maximizar a experiência do torcedor com a marca (e monetizar essa relação).
A gente enxerga a inovação não como algo atrelado à tecnologia, mas processual. Ela precisa fazer uma estratégia de longo prazo e transversal à estrutura, como acontece nas grandes empresas. Isso exige profissionalismo, diz Ricardo Mazzucca, sócio da Arena Hub.
A missão do cluster é ser um facilitador de conexões com players da nova economia e fomentar o mindset da inovação no esporte nacional. Isso acontece por meio de um tripé de atores, explica Mazzuca.
De um lado estão as entidades esportivas, que demandam capacitação para uma nova mentalidade e ganham força numa comunidade verticalizada que está em constante troca de informações.
De outro, estão as empresas que, de fato, produzem inovação: as startups. Mais de 200 já fazem parte da comunidade. “Qualquer startup que agregue valor à indústria do esporte, não necessariamente sportechs, podem fazer parte”.
Especialmente no caso de arenas inteligentes e multiusos, há uma gama enorme de startups que podem agregar valor a esses espaços, completa Mazzuca.
O terceiro pé que sustenta a Arena Hub são investidores. Recentemente, a marca lançou seu primeiro fundo de investimentos, o Sports Angels, que prevê investir R$ 15 milhões em 15 a 20 sportstechs em estágio inicial, no período de cinco anos.
Temos um longo caminho em comparação ao que é feito internacionalmente, o que mostra o grande potencial de crescimento da indústria. Sou otimista porque vejo uma mudança na mentalidade das lideranças que estão gerindo esse mercado, finaliza o sócio da Arena Hub.