Economia Brasil

Crescimento econômico do Brasil depende mais do aumento de produtividade e menos de fatores externos, apontam especialistas

O Brasil atravessa um momento decisivo. Entre a desaceleração demográfica, pressões fiscais crescentes e um cenário internacional instável, economistas apontam que a chave para o crescimento sustentável está menos em fatores externos e mais na capacidade interna do país de elevar sua produtividade. A avaliação é dos economistas Mansueto Almeida, chefe de pesquisa econômica do BTG Pactual, e Aod Cunha, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul e conselheiro de administração.

A transição demográfica é um dos pontos de alerta, já que o Brasil começará a diminuir a população em cerca de 15 anos, e isso exigirá uma transformação profunda na educação. “O trabalhador que vai entrar nas fábricas daqui a vinte anos nascerá nos próximos cinco. Se o ciclo educativo não começar bem, não teremos produtividade no futuro”, reflete Aod Cunha. A lacuna atual na primeira infância, segundo ele, compromete não apenas competitividade, mas todo o potencial de geração de renda.

O debate fiscal também pesa. Para Mansueto Almeida, a persistência dos juros elevados tem um culpado claro. “O que tira crescimento do país é um juro muito alto em decorrência do excesso de gasto que levou a inflação para cima.” Para Almeida, uma política fiscal que inspire confiança e reduza pressões inflacionárias é o ideal e permite que o ambiente de investimento volte a respirar.

Ambos os especialistas concordam que o Brasil superestimou o peso das turbulências externas. Mesmo com o aumento recente de tarifas norte-americanas, o impacto econômico é pequeno. Mansueto observa, que:

Ao longo de décadas não foi por nada do cenário internacional que o Brasil cresceu menos, foram fatores domésticos

A conclusão é que reformas internas – e não ciclos globais – são determinantes para o país deslanchar.

A produtividade aparece como vetor central desse avanço. O agronegócio, que cresceu de forma robusta por mais de 30 anos, é exemplo. Aod destacou que o salto veio da combinação entre inovação privada e políticas públicas de pesquisa e desenvolvimento. Para ele, a lição precisa ser reproduzida na indústria e nos serviços. “Uma economia mais integrada ao mundo importa o que há de melhor no processo produtivo. O Brasil ainda é muito fechado.”

A reorganização global das cadeias produtivas, motivada por tensões geopolíticas e avanços tecnológicos, abre uma janela rara para o Brasil. Com energia renovável abundante, estabilidade institucional e grande mercado interno, o país poderia se apresentar como alternativa natural a parte da produção hoje concentrada na Ásia. “O Brasil deveria estar se posicionando como solução, não como espectador”, reforça Mansueto.

Mas, segundo os economistas, esse movimento exige alinhamento entre governo e setor privado, algo que ainda está distante da realidade. Aod foi crítico ao avaliar a fragmentação das agendas empresariais:

“Falta construir uma agenda potente, com poucas prioridades e persistência. Há muita ação dispersa.”

A Inteligência Artificial, embora cercada de incertezas, é vista com otimismo. Mansueto destaca que a história mostra como saltos de produtividade ampliam renda e bem-estar. “Isso vai acontecer com a Inteligência Artificial. Cabe a nós nos prepararmos para aproveitar.”

Ao final, permanece uma mensagem de que o futuro econômico do Brasil depende fundamentalmente de escolhas internas. “Não há fator externo de sorte ou azar que determine nosso crescimento. Está na nossa mão”, resume Aod Cunha.