O setor privado precisa ter ambição e querer arriscar mais, sugere Leany Lemos

O setor privado precisa ter ambição e querer arriscar mais, sugere Leany Lemos

Com meta em seu plano operacional de 2021 de aportar mais de R$ 3,2 bilhões no desenvolvimento das empresas da Região Sul, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) aumenta os seus esforços para se tornar um parceiro cada vez mais próximo do empreendedorismo de alto impacto. E com uma estratégia cada vez mais intensa na direção empresas que enderecem temas importantes, como a diversidade e a sustentabilidade. “Nosso futuro tem bicicletas, energias renováveis de diversas fontes, carros que não poluem e uma forma de vida mais saudável. Para chegar lá, precisamos ter menos pobreza, englobar todos os talentos (independente de gêneros), oferecer oportunidades, acolher a diversidade e agir de forma ecológica”, analisa a diretora-presidente do BRDE, Leany Lemos. Ela concedeu essa entrevista direto da sede do Instituto Caldeira, entre uma pausa para o café e conversas com gestores públicos e empresários que visitavam o espaço naquele dia. “O Rio Grande do Sul abraçou a visão da colaboração e estamos presenciando, em iniciativas como a do Instituto Caldeira, uma semente disso. O que se vê é o resultado de um ecossistema que funciona, onde as peças se encaixaram”, destaca.

Instituto Caldeira – O Rio Grande do Sul vive um momento especial com os seus ambientes de inovação. Como você avalia a atuação do BRDE nesta estratégia de futuro do Estado?

Leany Lemos – Mais do que querer ser, o BRDE já é um parceiro que busca estar junto das empresas e fazer com que elas se fortaleçam. Queremos apoiar o surgimento de novos players e incentivar o olhar para o futuro. Esse momento da pandemia que nós vivemos mostrou que, em todos os setores e atividades econômicas, a tecnologia já tem um papel importante, e que continuará ganhando relevância. O BRDE deseja ser um parceiro de vanguarda e estar ao lado de quem também ambiciona mudar. Isso é muito transformador.

Instituto Caldeira – Você acredita que o Rio Grande do Sul assimilou, finalmente, o poder da colaboração?

Leany – Já estamos presenciando, em iniciativas como do Instituto Caldeira, uma semente disso. O que se vê é o resultado de um ecossistema que funciona, onde as peças se encaixaram. Todas as universidades também são responsáveis por essa evolução, não apenas em termos de desenvolvimento de capital humano, mas no quesito de inserção da tecnologia, da metodologia e do papel que sempre desempenham no conhecimento questionador. Um exemplo disso são as transformações que vimos na pandemia, onde as pessoas questionavam a forma como a ciência era vista e compreendida. Penso que se você não tiver o dom de questionar, não haverá avanço em nenhum paradigma. Nesse ecossistema formador da inovação, ainda temos as empresas e um governo com políticas de renovação a longo prazo. É um processo muito interessante ver já o resultado deste conjunto de fatores que operaram. Por todos esses fatores, acredito que temos aqui um ambiente que junta indivíduos, jurídicos e físicos, de diferentes perfis, trabalhando e vislumbrando um futuro mais tecnológico. É bacana observar, pois são poucos os lugares no Brasil com estas características de aceleração.

Instituto Caldeira – Qual deve ser o papel do governo nesta perspectiva de construção de uma veia inovadora para o Estado?

Leany – O governo sozinho não consegue nada, ele precisa também que o setor privado seja ambicioso, que os empreendedores queiram se arriscar. Em nosso País, vemos muitas empresas que decidem investir, mas não querem correr riscos. Somos o 4º PIB do País, contamos com um agronegócio potente, um parque industrial relevante e uma área de serviços de alto valor agregado que cresce muito. Acredito no papel do governo para a condução e fiscalização, mas também como indutor disso tudo.

Instituto Caldeira – Demorou muito para a área de tecnologia ser vista como essencial pelas empresas?

Leany – Sim, e acredito que a tecnologia ainda é muito percebida como uma área operacional, inclusive nas estatais. A tecnologia não deixou de ser operacional, porém tem um impacto muito superior a isso. Precisamos avançar mais. Estamos nos sofisticando, mas para fazermos algumas atualizações organizacionais, ainda temos que enfrentar uma certa resistência.

Acredito que em todas as organizações vamos ter aqueles que serão mais conservadores e outros mais ousados. Claro que estamos em um tempo de transformação, de renovação, então precisamos aproveitar esse push que a pandemia trouxe à tona e fazer as transformações, tanto internas como externas, em prol de financiar cada vez mais projetos de   sustentabilidade. Inovar não é apenas sobre tecnologia.

Instituto Caldeira – Como esse tema da sustentabilidade se conecta com os investimentos do BRDE?

 Leany – Toda nossa discussão sobre sustentabilidade vem das sociedades pós-industriais, sociedades avançadas que ultrapassaram uma barreira e viram que as cidades do futuro não são as mesmas cidades dos Jacksons (com carros voadores).

Nosso futuro tem bicicletas, energias renováveis de diversas fontes, um carro que não polui, uma forma de vida mais saudável. Para chegar lá, precisamos ter menos pobreza, englobar todos os talentos (independente de gêneros), oferecer oportunidades, acolher a diversidade e agir de forma ecológica. São mudanças que já estão acontecendo, mas que em nosso País temos incorporado aos soluços.

Como banco, precisamos calcular qual o impacto ambiental e social do nosso crédito, e também estamos no processo de implementação do Sistema de Avaliação de Risco Socioambiental (SARS). Em termos de planejamento de futuro, como país, estado, região e empresa, precisamos ter os fundamentos de sustentabilidade e igualdade à nossa frente. É uma discussão importante, relevante e estamos incorporando ela no BRDE.

Instituto Caldeira – A inovação e sustentabilidade já estão guiando as decisões atuais do BRDE, sobre em que perfil de empresa investir?

Leany – Acredito que como forma de metas, sim. Além de nossos compromissos sustentáveis como um banco de créditos, estamos também revisando nossos programas e buscando simplificar e otimizar estes processos. Tanto na revisão destes processos, como em nossas demais decisões como diretoria, cada vez mais focamos nesses temas. Durante este ano, além da estruturação do SARS, aprovamos nossa estratégia de diversidade que trabalha com os colaboradores internos, mas também muda a forma de olhar para os procedimentos de crédito. Financiamos florestas, usinas de biomassa, iluminação pública e eficiência energética para prefeituras. De nossa carteira, cerca de 95% é privado e 5% é público. Em nosso programa de produção e consumo sustentável, ainda não temos cadastrados todos os programas que apoiamos por questões de processos técnicos, no entanto, ao menos 18% de nossos programas já estão encaixados nesta categoria.

Instituto Caldeira – O BRDE possui algum programa de condições especiais de crédito e financiamentos para líderes mulheres?

Leany – Nós autorizamos que as agências possam oferecer condições diferenciadas quando, pelo menos, 50% do capital inicial for feminino. Nesse caso, disponibilizamos redução das taxas de análise, redução de fiscalização e cadastro, um ticket menor, entre outras facilidades. Atualmente, podemos afirmar que cerca de 1/3 da nossa carteira vem do time de mulheres empreendedoras.

Instituto Caldeira – Qual tem sido a estratégia do banco de apoio à inovação?

Leany – No BRDE temos bons projetos que utilizamos para apoiar e acelerar empreendedores. Em resumo, o BRDE atua em quatro linhas deste segmento mais específico de inovação e tecnologia. O programa BRDE Inova, que oferece crédito e é uma construção que temos desde 2013. Ele representa uma quebra de paradigma que tivemos naquela época e hoje é o maior operador da Financiadora de Estudos e Projeto (FINEP) no país.  Como investidores, trabalhamos com três fundos de investimento: Criatec 03, um fundo de capital semente voltado para à  capitalização de médias e pequenas empresas inovadoras; o FIP Anjo, dedicado às startups e o Trivela Curitiba. Além disso, estamos de olho no Criatec 04. A ideia aqui é ampliar o percentual de nosso patrimônio de injeção em inovação, pois ainda somos muito conservadores. A antecipação da meta de 2025 para 2021 foi de 2,5% de nosso patrimônio líquido para projetos como este. Além disso, estamos olhando algo que invista mais especificamente no Rio Grande do Sul.

O BRDE Labs é um projeto de aceleração de startups que acredito ter sido muito bem desenhado. Em 2020 foram 178 inscritos no Estado e 12 acelerados, no qual três destas empresas agora constam no levantamento de startups destaque do Instituto Caldeira e Sebrae RS.

A quarta, e última, é o patrocínio que temos usado este ano no fortalecimento da marca BRDES como um parceiro para inovação e transformação. Para isso, aprovamos em maio deste ano dois projetos. Um deles chama-se ‘WomanOnTheRoad’, desenvolvido pela TecnoPuc para a aceleração de três startups femininas. Enquanto o segundo é ‘The Developers’, um programa para desenvolvimento de programadores junto com a Regimpe e a Associação das Empresas de Softwares (ABES). Este projeto trabalha com alunos de escolas públicas estaduais na formação de mil desenvolvedores (500 meninos e 500 meninas). Os dois projetos de patrocínio são oportunidades muito bacanas para o BRDE, além de uma satisfação enorme para nós em ver empresas de inovação expandindo.