Luis Lamb: Não basta tecnologia, precisamos de pessoas capazes de lidar com esse novo mundo
Só se transforma conhecimento em riqueza com colaboração e com a troca de ideias e de visões entre diversos atores, que absorvem o que estão vivenciando e transformam esses inputs em melhorias. Para o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e pesquisador em Inteligência Artificial, Luis Lamb, é assim que tem feito os ecossistemas de inovação mais bem sucedidos do mundo, como os de Israel, Estônia e Vale do Silício (EUA), e o que o Instituto Caldeira se propõe a partir de 2021, quando irá inaugurar os espaços físicos para receber os laboratórios de inovação de grandes empresas e startups. “O Caldeira é um símbolo dessa aceleração rumo a uma economia focada em conhecimento, a partir de tecnologia, da inovação e de uma nova cultura que está sendo construída em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul”, aponta Lamb, que atuou como coordenador da Aliança para Inovação.
Instituto Caldeira – Vivemos um ano ainda com perspectivas desafiadoras. O quanto a inovação será decisiva para a retomada do cenário de Covid-19?
Luis Lamb – A sociedade está se dando conta que a inovação e a tecnologia vieram para ficar e vão acelerar nos próximos anos. As empresas que estão adotando tecnologia estão conseguindo vencer desafios, mesmo diante da crise. Ainda vamos ter um ano difícil em 2021, mas a aceleração do que ocorreria em dez anos aconteceu e seguirá. Vivemos a transição de uma economia do século XX para uma mais focada em inovação e conhecimento, aderente a esse cenário do século XXI. Isso está se disseminando no Brasil e, no Rio Grande do Sul, já vemos muitas lideranças com essa percepção. Ainda não diria que houve uma transformação em todos os setores, mas há uma grande evolução em curso.
Instituto Caldeira – Em que áreas o Rio Grande do Sul está conseguindo acelerar mais rapidamente?
Lamb – Estamos vendo grandes movimentos para transformar a indústria, como nos setores de agronegócio, celulose e metal mecânico. Existem movimentos pela inovação exemplares no Estado, como o da serra gaúcha. O mesmo está acontecendo na área de tecnologia, com muitos players relevantes se consolidando.
Instituto Caldeira – A formação das pessoas para esse novo momento caminha de forma alinhada com a adoção das novas tecnologias?
Lamb – Em muitos segmentos da economia, existe uma aceleração do processo de adoção de tecnologia, mas a verdade é que não basta comprar ferramentas, é preciso mudar a cultura. Criar uma gestão baseada em tecnologia e dados requer outros tipos de formação e profissionais com uma visão distinta da existente até então. Muitas empresas estão cientes disso, e no Rio Grande do Sul, vimos vários exemplos de operações que, mesmo com a crise, continuaram crescendo, e isso tem a ver com a modernização, a transformação digital, a aplicação de novas tendências de gestão e de metodologias. Não basta adquirir tecnologia, temos que ter pessoas capacitadas para lidar com esse novo mundo.
Instituto Caldeira – Como você enxerga o potencial dos ambientes de inovação apoiarem essa transição para a nova economia?
Lamb – A implantação desses ambientes comuns, abertos, com espaços para as empresas compartilharem ideias é um valor fundamental na economia do conhecimento. Só se transforma conhecimento em riqueza quando acontece essa troca, ou seja, quando a informação gerada é absorvida por muitos. Isso porque, a gente recebe de volta inputs que geram melhorias. É isso que os ecossistemas que deram certo mundo afora tem feito. Os atores dos ecossistemas de inovação evoluem porque absorvem conhecimento que, por sua vez, é aprimorado por quem está no seu entorno. Em Israel, Estônia, Vale do Silício (EUA) temos uma quantidade enorme de troca de informação. Tem competição, mas a grande virtude é a colaboração.
Instituto Caldeira – Qual o papel do Caldeira neste cenário?
Lamb – O Caldeira é um belíssimo exemplo da capacidade de mobilização ecossistêmica entre lideranças empresariais e acadêmicas que enxergaram a necessidade de dar esse passo na direção do século 21, para uma economia mais moderna e baseada em ativos intelectuais. O Instituto Caldeira é um símbolo dessa visão de uma economia focada em conhecimento, a partir de tecnologia, inovação e de uma nova cultura que está sendo construída em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul.