Domos Open Innovation

DOMOS Open Innovation: os desafios que não te contaram sobre inovação aberta

A inovação fechada marcou a história das organizações até anos atrás: cada organização trabalhava em SILOS de conhecimentos, se protegendo de seus concorrentes, entendendo que segredos industriais eram uma estratégia valiosa de barreira para garantir mercado.

Em contrapartida a essa lógica, com a chegada da Era da Informação, a Inovação Aberta (termo atribuído por Henry Chesbrough) apresenta como uma maneira mais participativa e descentralizada de criar e inovar, gerando valor na interação de ideias e conhecimentos além das fronteiras das organizações. Mas a aplicação desse conceito também traz importantes desafios.

Fomos convidados a compartilhar o que temos discutido sobre Inovação Aberta em nossas organizações e no programa DOMOS – iniciativa que visa integrar membros do Caldeira em torno de um assunto específico. Neste grupo contamos com representantes da indústria, varejo, bancos privados e cooperativos, além do poder legislativo. As empresas Grendene, Lojas Renner, Braskem, SLC Agrícola, TK Elevadores, Sicredi, Todeschini, FCC, Tribunal de Contas do Estado, DLL, Banrisul, Marco Polo, DLL e Unifertil fazem parte do DOMOS de Open Innovation do Instituto Caldeira.

Desafio 1: Como se comunicar, alinhando linguagem e cultura interna?

Talvez um dos primeiros e principais pontos para quem vai trabalhar com inovação, assim como em qualquer outra área que demande envolvimento de toda a organização, seja a habilidade de se comunicar. Simplificar a comunicação e torná-la acessível, compreensível e transparente para todos os níveis pode parecer óbvio, mas não é algo fácil. Como diz um dos grandes slogans da Apple: “É complexo ser simples”.

Jogo de cintura e empatia são fundamentais para compreender como envolver e engajar a todos. Criar uma cultura sólida, disseminando conhecimentos diversos e convidando todos a participar, compartilhar, se envolver, buscar oportunidades e gerar ideias é a base para este processo. É a combinação de inputs que vai ajudar a alimentar a inovação.

Boas ideias nem sempre nascem boas. Boas ideias nem sempre são disruptivas. Boas ideias nem sempre precisam ser grandiosas. Boas ideias têm colaboração, execução e valor para o negócio. E os quick-wins são umas das melhores formas para mostrar valor para todos. São pequenas ideias, que ao serem sucessivamente colocadas em prática, ajudam na criação da cultura e da confiança.

É importante lembrar que aqui estamos falando de todos os stakeholders envolvidos, seja público interno, seja parceiros, startups, empresas, universidades. Precisamos ter transparência e clareza na comunicação para e com todos. 

Desafio Número 2: Quem mexeu no meu queijo? 

Áreas de Open Innovation são recentes nas organizações brasileiras e costumam não ser uma área formal dentro da companhia. Ainda que o foco dessas áreas seja atuar em novas frentes de trabalho com o ecossistema, é inegável que há algumas zonas cinzas ou de intersecção com o escopo de outras áreas tradicionais da organização. Alguns exemplos de tensões geradas a partir disso:

Tensão Número 1: Compras → Grandes empresas têm processos bastante estruturados e padronizados para contratação de parceiros, com alto nível de exigência relacionados a compliance. Se uma nova área (Open Innovation) nasce para fomentar a contratação de startups, é essencial haver uma proximidade com a área de Compras e um alinhamento de como os processos padrão serão aplicados ou não nesse contexto. 

Tensão Número 2: Tecnologia da Informação → Talvez essa seja a tensão mais recorrente no relacionamento interno com as startups e pode variar de acordo com a proximidade entre as áreas de Tecnologia da Informação (TI) e Open Innovation – pois em muitas estruturas o Open Innovation está dentro da Diretoria de TI ou de Transformação Digital.

Tensão Número 3: Marketing → No relacionamento com o ecossistema de inovação há algumas iniciativas que os times de Open Innovation se envolvem com exposição externa à organização e que, muitas vezes, podem ser responsabilidade do time de Marketing. Algumas delas são: patrocínio de eventos, participações externas como speaker ou porta-voz e participação em rankings e premiações.

Tensão Número 4: Recursos Humanos → Quando falamos de ações relacionadas à cultura de inovação, muitas vezes elas são lideradas ou, pelo menos, coordenadas com os times de RH. 

Tensão Número 5: Jurídico → Por serem muitas vezes soluções novas no mercado, algumas situações ainda não apresentam um grande histórico de acontecimentos ou com definições jurídicas claras sobre o tema. Essas indefinições podem gerar uma insegurança e um risco maior para empresa, o que pode ser o suficiente para atrasar ou negar uma relação entre as partes.

A partir dessas tensões, apresentamos três oportunidades que acreditamos ser aplicáveis a qualquer organização que busca iniciar ou acelerar suas ações de Open Innovation:

Fast Track para Contratação de Startups:

Simplificação do processo de contratação, priorizando a realização de testes (Provas de Conceito – POC) para avaliar a solução da startup no ambiente corporativo;

Eliminação temporária de requisitos como saúde financeira e estrutura da área de Segurança da Informação para acelerar a fase de teste;

Após comprovação de valor, um plano de adequações é desenvolvido em conjunto com a área de Compras e o parceiro.

Sandbox para Testes Inovadores:

Analogia ao ambiente de uma caixinha de areia, o sandbox é um espaço controlado para realizar testes com regras flexibilizadas e impacto limitado;

Permite às empresas testarem inovações que exigiriam alterações nas regras tradicionais, com acompanhamento próximo e avaliação contínua dos riscos;

Proporciona um ambiente seguro para experimentação e aprendizado.

Formação de Alianças na Inovação Corporativa:

Recomendação de vincular metas e planos de trabalho de Open Innovation aos objetivos estratégicos da empresa;

Enfatiza a colaboração e troca entre diferentes áreas e funções, evitando a criação de áreas isoladas de Open Innovation;

Oportunidade de formar alianças entre áreas para fortalecer a pauta de inovação, integrando a inovação ao cerne dos objetivos organizacionais.

Desafio 3 – Encontrar Parceiros em Open Innovation

Na busca por parceiros, destacamos alternativas conforme o grau de maturidade em Open Innovation:

Eventos de Inovação: Participação em eventos como South Summit e Web Summit para identificar possíveis colaboradores.

Benchmarking: Troca de experiências entre empresas para aprendizado mútuo.

Redes Sociais: Utilização do Linkedin para encontrar profissionais e fundadores de startups.

Participação em Hubs de Inovação: Oportunidade de conexão com o ecossistema empreendedor, como Instituto Caldeira e Porto Digital.

Plataformas Digitais: Uso de plataformas como Distrito e Cubo para busca de startups.

Lançamento de Desafios: Consultorias e hubs para encontrar startups alinhadas aos desafios de negócio.

Páginas de Inscrição: Empresas com maturidade em Open Innovation, como Natura e Nestlé, possuem páginas para inscrições.

Aceleradoras: Possuem um portfólio de startups e parceiros que podem atender suas demandas. Algumas oferecem serviços de estruturação de Open Innovation para empresas, como a busca e seleção.

Incubadoras: Disponibilizam startups em fases mais iniciais que podem ser mais flexíveis em atender as diferentes necessidades.

Parques Tecnológicos: Contam com empresas de diferentes portes e níveis de inovação. Muitas vezes estão associados a Universidades o que abre mais possibilidades de construção de soluções/estudos.

Desafio 4 – Lidar com Diferentes Parceiros

Durante a procura por soluções através da inovação aberta, teremos a oportunidade de interagir com diferentes entidades. Saber lidar com estes parceiros, conhecendo as suas particularidades e os preparando para trabalhar com as empresas será um grande diferencial neste relacionamento

Relacionamento entre Startups e Empresas: Compreensão da fase da startup e prontidão para escalar, assim como a maturidade da cultura de inovação da empresa. O trabalho entre ambas partes deve contar com empatia e colaboração.

Relacionamento entre Universidades e Empresas: Oportunidade de desenvolvimento de novas tecnologias onde testes são essenciais antes da aplicação das soluções. Deve-se realizar a gestão das incertezas e suporte na transferência de tecnologia.

Relacionamento entre Empresas: União de conhecimento e experiência para criar novos produtos e mercados, requerendo uma cultura de inovação avançada e apoio de sponsors de diretoria.

Universidades, startups e empresas possuem suas particularidades, mas há pontos que ajudam no sucesso dessas parcerias com qualquer instituição.

Oportunidades:

– Sempre tenha em mente que devemos buscar uma relação ganha-ganha;

– Ter clara a estratégia e o problema a ser resolvido é fundamental;

– Importante a definição clara de quem é o sponsor e os facilitadores do processo;

– Avalie o fit cultural de cada instituição e tenha ciência de que as relações podem evoluir;

– Estar imerso no ecossistema acelera o negócio para todas as partes.

– Alinhamento das expectativas de tempo x recursos disponíveis para a relação.

Desafios

– Ter um orçamento definido para realizar inovação aberta;

– Trabalhar a aversão ao risco;

– Ter claro que a busca por soluções fora da empresa não pode ter como objetivo mão de obra barata;

– Cada instituição deve buscar conhecer e aprender com o parceiro as dinâmicas do negócio;

-Seguir os processos, mas buscando a forma simplificada.

Esperamos que estas reflexões sejam valiosas para todos os atores no processo de inovação em suas organizações.

* Artigo colaborativo produzido pelos profissionais integrantes do DOMOS de Open Innovation do Instituto Caldeira.