
A conexão foi substituída pelo espetáculo, lamenta criador do Orkut
“O que você chama de mídia social hoje é dramaticamente diferente do que eu imaginei quando criei o orkut”. Palavras de Orkut Büyükkökten, o criador da rede social que marcou uma geração. O engenheiro de software turco e idealizador do Orkut subiu ao palco nesta quarta-feira (9), no South Summit Brazil, Porto Alegre, para uma palestra carregada de críticas, nostalgia e esperança.
No painel intitulado “Ascensão e queda das redes sociais”, ele compartilhou uma visão crítica sobre o rumo que o universo digital tomou nos últimos anos. “As redes deixaram de ser um espaço de conexão genuína entre pessoas e se transformaram em vitrines de vaidade, onde “a conexão é substituída pelo espetáculo”, lamentou.
Büyükkökten relembrou marcos que, segundo ele, mudaram o rumo da internet social. “Em 2009, o Facebook introduziu o botão ‘Compartilhar’, e o Twitter lançou o ‘Retweet’. Pareciam boas ideias na época, mas mudaram tudo”, explicou. Esses recursos, segundo ele, deram origem a uma cultura de viralização, onde o conteúdo passou a ser moldado por métricas de popularidade, e não por vínculos reais.
“Likes, retweets e compartilhamentos transformaram emoções em ferramentas de engajamento. O que importava era atrair atenção, não criar conexão”, destacou. Na sua análise, os algoritmos, ao invés de aproximar as pessoas, passaram a explorar fragilidades emocionais, alimentando narcisismo e solidão.
Em um dos momentos mais impactantes da palestra, ele abordou a perda do senso de comunidade:
Criamos um mundo onde podemos alcançar qualquer pessoa, a qualquer momento — mas esquecemos como realmente nos conectar uns com os outros.
Citando estudos recentes, ele destacou o crescimento da solidão e dos problemas de saúde mental entre jovens. “Em 2023, o Diretor de Saúde Pública dos EUA declarou que a solidão atingiu níveis epidêmicos. Um em cada dois americanos se sente desconectado”, afirmou. Segundo ele, a geração Z está reagindo a essa realidade ao buscar experiências mais autênticas, afastando-se da “busca vazia por likes”.
O criador do orkut também chamou atenção para o impacto das redes na intimidade e no amor. “Hoje, apenas 15% dos usuários recebem toda a atenção nas plataformas. Os outros 85% se sentem invisíveis”, disse. Para ele, os aplicativos de relacionamento reforçam esse desequilíbrio, priorizando aparência em vez de personalidade. “Os atos de amizade viraram um espelho cruel que não reflete amor, mas um sistema quebrado”, completou.
Ao final, o engenheiro defendeu que a tecnologia pode — e deve — ser usada para restaurar o sentido original das redes sociais: criar laços significativos. “Precisamos reconstruir essas plataformas com base em valores compartilhados, não apenas em soluções sem fricção”, disse. E concluiu: “Podemos escolher conexões reais. Talvez assim possamos reescrever as regras do networking social. Talvez possamos criar algo novo”.