Professora de Harvard mostra como os dados podem alavancar a aprendizagem
O modelo de ensino tradicional definitivamente não alcança todo o potencial de aprendizagem da nova geração, sobretudo no ensino público. Por isso, é preciso pegar carona com as transformações digitais, fazendo uso massivo de dados e métricas em prol da educação. Mas não se engane, a tecnologia não é protagonista nesse processo, e sim o trabalho colaborativo dos educadores.
Em um dos primeiros painéis da Semana Caldeira, que acontece essa semana em Porto Alegre, a professora sênior da Harvard, Kathryn Boudett, contou sobre o projeto Data Wise, que treina educadores ao uso de dados e novas metodologias para melhorar o processo de aprendizagem. Tudo se baseia em muito diálogo presencial e dinâmicas colaborativas, através de um processo baseado em 8 passos – e que lembram muito as etapas da pesquisa científica.
O Data Wise estabelece um passo a passo para educadores e redes de ensino trabalharem pesquisas colaborativas, aprendizagem ativa e diversas fontes de dados para melhorar o ensino e os resultados dos alunos em sua escola.
“Isso permite que se discuta o potencial de aprendizagem de forma mais objetiva, mas não deve ser encarado como um julgamento ao trabalho dos professores e instituições”, explica Kathryn, que é fundadora do Data Wise e também é co-autora de livro sintetiza como implementar essa importante ferramenta educacional.
Segundo ela, as informações que vão municiar os educadores não podem se basear apenas em dados quantitativos, como as notas trimestrais. É preciso discutir o conjunto de informações qualitativas que serão usadas. No entanto, a primeira meta é organizar e estabelecer o trabalho cooperativo intencional dos professores para daí sim criar um panorama de dados e colocá-lo na prática.
Durante o painel “Como usar dados em educação de forma colaborativa com as lentes da equidade”, realizado no Instituto Caldeira, a professora explicou que os processos do Data Wise acabam não sendo assimilados da mesma forma entre as instituições de ensino, mas o trabalho cooperativo dos professores faz com que essas etapas sejam adaptadas à realidade de cada turma, e cada aluno.
“É uma honra trabalhar com professores, os ajudando a melhorar a aprendizagem de seus alunos através da colaboração. São eles os especialistas e, se tiverem mais evidências para medir o desempenho do processo educativo, vão ter ganho também em sua performance”, diz.
Kathryn apresentou a uma arquibancada lotada as normas que indicam como implementar o Data Wise, de Harvard, e que servem para capacitar professores a esse modelo de ensino. Pontos como: ter uma postura investigativa, formular colocações baseadas em evidências e, principalmente, trabalhar a escuta.
A gente tem uma oportunidade na educação que é alcançar todo o potencial dos alunos, mas precisamos questioná-los mais. Já o maior desafio é superar o medo de mudar a forma como ensinamos.
A professora sênior da Harvard também ministrou um workshop dentro do Caldeira, onde aprofundou o projeto Data Wise para um grupo de 80 professores do ensino público estadual e 10 escolas particulares da comunidade Caldeira. Além disso, a aula também contou com a participação de 200 do programa Nova Geração.
“Teremos três horas para analisar casos práticos, trocar experiências e nos aprofundar ainda mais sobre o projeto”, acrescenta.
O painel completo de Kathryn Boudett e todos os conteúdos da agenda Caldeira estão disponíveis no APP para ver e rever. Se você é membro da comunidade Caldeira, baixe o app do Instituto Caldeira na Apple Store ou Play Store.
Data Wise chega nas escolas gaúchas
Durante o painel, Kathryn convidou ao palco Rafael Koman, o primeiro educador certificado na América Latina no projeto Data Wise, que já está presente em mais de 150 países. Koman explicou como tem sido a implementação do uso de dados e trabalho cooperativo em cinco escolas estaduais no município de Encantado, localizada no interior do Rio Grande do Sul.
Em sua tese de mestrado, Koman tem estudado o potencial do projeto na educação do município e trouxe à apresentação alguns feedbacks de educadores locais. Num dos relatos, a educadora Kaise Radaelli diz que:
“Antes, pensávamos que o Data Wise era um formato de trabalho puramente técnico com uma busca de dados estatísticos sobre a aprendizagem dos alunos. Agora, ele mostra que tem a possibilidade de uma dimensão ainda maior por trazer discussões e reflexões que permitam analisar a prática pedagógica”.
A Semana Caldeira acontece entre 18 e 22 de setembro e reúne grandes nomes do mercado e da nova economia e governos para discutir sobre o futuro da educação, das novas tecnologias e como a inovação permeia todos esses temas.