
Persistência é chave para criatividade e satisfação genuína, ensina pesquisador Charles Watson
A persistência, mesmo nos momentos mais difíceis de um processo, pode gerar sentimentos profundos de realização e aprendizado genuíno. Para o educador, pesquisador e palestrante motivacional britânico Charles Watson, “constância é mais importante do que volume de horas investidas”. Em outras palavras, ele explica que não adianta se dedicar intensamente por um único dia a determinado ofício, fruto de uma inspiração, e depois simplesmente abandonar a prática por longos períodos.
Durante a palestra Persistência, Esperança e Dopamina, realizada nesta segunda-feira (7), no Instituto Caldeira, Watson compartilhou um exemplo prático. Ao abrir uma turma para construção de barcos, 20 pessoas se inscreveram, mas apenas três concluíram seus barcos ao final do curso, três anos depois. Entre eles, o sentimento era de uma satisfação e felicidade inéditas.

“Por que as outras pessoas não tiveram a oportunidade de sentir isso? Porque já tinham ido para casa”, observa. E completa: “ao longo do processo, eles perceberam que não era só um toque de celular e estaria pronto. Era preciso lixar muito bem o barco, dava trabalho, levava tempo”.
Alcançar esse tipo de resultado exige, na visão dele, abrir mão de gratificações imediatas e entender que o compromisso com um objetivo significa, inevitavelmente, deixar outras opções de lado. “Se você pular de uma coisa para outra, você nunca vai atingir um patamar onde as coisas acontecem”. Da mesma forma, “se você não praticar, você fica no mesmo lugar”, afirma, mencionando que se dedica a escrever por seis horas diárias. “Mesmo quando não consigo, escrevo ao menos duas. Isso muda minha percepção”, conta.
Não tem como ser criativo sem sacrifícios – Charles Watson
A criatividade, diretamente ligada ao tema central, também foi amplamente debatida com o público no Espaço Caldeira. Diante das inúmeras fórmulas prontas sobre como ser criativo e do clichê do “pensar fora da caixa”, Charles Watson faz um alerta: “não tem como ser criativo sem sacrifícios”. Ou seja, é preciso se envolver e investir energia nos objetos de interesse criativo — sejam eles artísticos, científicos ou empresariais. É necessário criar um hábito e persistir nele, mesmo quando erros acontecerem ou a autoestima for baixa.
Esteja nos locais onde as coisas acontecem. Mesmo sem inspiração, mesmo que seja para limpar o chão, porque isso aumenta o seu tempo de contato com o que você deseja fazer. O custo energético de enxergar as coisas de maneira diferente é tão alto que não o fazemos a menos que sejamos forçados ou que estejamos altamente motivados pelas recompensas intrínsecas que vêm da própria atividade.

Watson vai além. Para ele, criatividade não se resume a ter uma ideia ou um momento de inspiração. “Quando escrevo e dou palestras sobre criatividade, estou me referindo à criatividade significativa, qualquer modo de produção criativa com consequências que vão além da esfera exclusivamente pessoal e que representam algum tipo de contribuição, por menor que seja, para algum campo da atividade humana simbólica”, explica.
Ele também defende que, ao se apaixonar por um problema a ser solucionado ou a um objeto, é fundamental tornar-se aliado do desconforto. Para ser criativo, é preciso cultivar um “medo impulsionador”. “Não é que as pessoas criativas sintam menos desconforto do que outras — frequentemente sentem mais. Em realidade, parecem ter uma tolerância maior ao desconforto, a ponto de o ver como um aliado, ao invés de como um inimigo. É um sinal de que estão no lugar certo: em uma zona onde sabem que coisas importantes são mais prováveis de acontecer — se ficarem lá por tempo suficiente”, sintetiza.