O esporte imita a arte de empreender, aponta Alphonse Voigt, fundador do EBANX
Pescador submarino nas horas vagas, surfista aposentado por acidente e autodeclarado um apaixonado por esporte, Alphonse Voigt entende que os desafios da atividade física e do empreendedorismo são muito parecidos e exigem os mesmos tipos de superação. Cair e levantar. Sempre dar o seu melhor. Aprender com os seus erros. “Essas são regras essenciais no esporte, mas também são imperativas nos negócios. Além, é claro, de usar a adrenalina para enfrentar desafios cada vez maiores sempre”, ressalta o empreendedor por paixão e advogado por formação.
Segundo o cofundador da EBANX, unicórnio brasileira que se tornou numa das maiores fintechs da América Latina, a ambição e a paixão são as bases para o empreender com ‘sangue no olho’. Outro alicerce, mais técnico, é criar uma solução simples, mas que seja de forte impacto.
No caso da EBANX, são exatamente essas características que talham a cultura da empresa desde a fundação, explica Voigt, que passou de CEO para presidente do conselho administrativo da empresa recentemente. Para ele, a motivação é essencial: “Não receba para trabalhar. Trabalhe para receber. Quanto se tem paixão os desafios são mais fáceis de resolver”, sugere.
As ideias sobre empreendedorismo do curitibano Alphonse Voigt foram um dos destaques da última edição do Caldeira Sessions, realizado pelo Instituto Caldeira, onde o empresário também pôde contar mais sobre a história do seu negócio.
Nunca é tarde para começar um negócio de impacto”, diz Alphonse Voigt, que antes de entrar no mundo dos pagamentos exerceu a formação em direito, com especialização em direito internacional. “Nós começamos o EBANX e eu já tinha 38 anos. Então, sempre é possível começar do zero de novo”, diz o presidente do conselho administrativo da empresa.
Para quem não conhece, o EBANX é uma fintech brasileira que chegou ao mercado em 2012 com uma ideia bem simples: facilitar a interação entre empresas globais e a dinâmica própria de pagamentos na América Latina, que tem forte adesão ao boleto bancário. Principalmente no Brasil.
O que começou lá atrás como uma startup, logo galgou o título de unicórnio, devido a criação de uma solução altamente escalável e multiplicadora de vendas. “As pessoas dizem que foi uma solução genial, mas na verdade não. A gente só pegou uma jabuticaba brasileira, e trouxe uma forma de resolver para os clientes de fora”, recorda Voigt.
Conforme lembra, o objetivo era chegar aos clientes com um pitch bem simples, com proposta clara e muito fácil de ser entendida: ‘boleto bancário para sites internacionais pode aumentar em duas ou três vezes as vendas para o Brasil’.
No primeiro ano, a EBANX já conseguiu fechar com o primeiro grande (na realidade, gigante), cliente: o site de vendas online chinês Alibaba, a maior plataforma B2B do mundo. “Aprendemos a trabalhar com escala na prática. Foi transformacional para a história da empresa”, conta. No ano seguinte, clientes como AirBnB, Spotify, Sony Playstation e Wishes.com já faziam parte do time de clientes da empresa.
Depois de quase uma década de operação, a EBANX já não é mais uma empresa que oferece boletos como forma de pagamento. Hoje ela abrange soluções de pagamento que vão de ponta-a-ponta, em todo o processo de transação dentro de e-commerces. Além do mais, possui mais de 100 métodos de pagamentos locais disponíveis, e já ajudou mais de 500 empresas globais a crescerem na América Latina, além de 40 milhões de latino-americanos a terem acesso a serviços e produtos de todo o mundo. Só no último ano, foram mais de R$ 20 bilhões processados pela fintech.
Atualmente, a empresa tem mil colaboradores, apelidados carinhosamente de “ebankers”, faturou R$ 1 bilhão ano passado e tem crescimento estimado para este ano acima de 50%.
Já não somos uma operação de pagamento cross border. Nos tornamos uma operação híbrida com atendimento em toda América Latina”, enfatiza o cofundador. Os cartões de crédito se tornaram mais relevantes do que o próprio boleto com o tempo.
O próximo desafio é preparar a empresa para a abertura de capital. Embora a nova economia permita várias contextualizações e explicações diferentes, o cofundador e presidente do Conselho do EBANX, elenca algumas características básicas que ajudaram a mudar a forma de se fazer negócios atualmente.
O primeiro ponto é foco total, “quase doentio”, no cliente. Não só nos clientes da EBANX, mas nos clientes dos clientes. “Hoje você não pode fazer bem só o seu trabalho. É preciso fazer bem o seu trabalho e o de quem está te contratando”, explica.
Até por isso que a Covid-19 foi um período tão desafiador para a empresa de pagamentos. “Pegamos os problemas dos nossos clientes e trouxemos para dentro do EBANX”, acrescenta.
Outra importante mudança na economia, segundo visão do empresário, é na relação de trabalho, entre empresa e colaborador. Enquanto antes o empresário reclamava do excesso de direitos e o colaborador da falta dos mesmos, hoje a relação é de mais confiança. “Acredito que as empresas da nova economia entendem que precisam valorizar seus colaboradores para ter uma resposta de excelência. Somado a isso, o colaborador, dentro dessas novas empresas, encontram um espaço fértil para crescer e se dedicar. Eu vejo essa mudança como essencial e divisora de águas no modelo de gerir negócios”, conclui.