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Mudanças climáticas trazem desafios e oportunidades de investimentos para startups 

Cresce a busca de soluções para responder às mudanças climáticas, que provocam tragédias como as que acometeram o Rio Grande do Sul no ano passado. Além de beneficiarem o meio ambiente e as pessoas, os investimentos de impacto trazem retorno financeiro e são lucrativos para empresários e investidores. Para discutir o assunto, Guilherme Penna, sócio da SilenceVC, e Bruna Constantino, cofundadora da Positive Ventures, se juntaram à mediadora Daniela Pinto, vice-presidente sênior da GEF Capital, no painel Investing in Climatech: The LATAM and U.S. Landscape, realizado nesta quinta-feira (10), em Porto Alegre, durante o South Summit.

Durante a conversa, foram analisados os cenários americano e brasileiro, suas oportunidades e diferenças. De acordo com Bruna, o principal objetivo é enfrentar os desafios ligados às mudanças climáticas. “Investimos muito em softwares, agricultura sustentável, economia circular e descarbonização”, conta.

No entanto, o investimento em startups climáticas não acontece da mesma maneira em todos os lugares, pois cada região tem suas particularidades. “A principal diferença em relação à Europa é que lá há uma demanda maior por eletrificação de prédios e por alternativas ao gás natural. Na América Latina e no Brasil, isso é um problema menor. Aqui, a prioridade está na otimização da demanda energética e na agricultura, por conta das emissões”, explica Penna.

Outra diferença é a expectativa quanto ao retorno financeiro. “Percebo que os investidores americanos aceitam melhor projetos que vão dar retorno em quatro anos. Aqui, precisa ser rápido”, observa o sócio da SilenceVC. Ele acrescenta que, no Brasil, a discussão sobre capital paciente enfrenta outro desafio: fazer com que os investidores entendam que negócios sustentáveis não são filantropia. 

“Senti muita diferença na percepção dos investidores locais e estrangeiros. Nos EUA, retorno e impacto caminham juntos. O impacto é uma consequência do lucro. Aqui, os investidores ainda veem o impacto como se estivéssemos falando de algo sem lucro. O entendimento é limitado em comparação aos EUA e à Europa. Tive mais trabalho para educar os investidores de que é possível integrar tudo. Sinto essa diferença com clareza”, pondera o executivo.

No Brasil, muitos empreendedores realmente começam pelo impacto, com a ideia de que, no futuro, isso fará sentido financeiramente. Nos Estados Unidos, os fundadores já têm esse entendimento desde o início: é preciso ser sustentável do ponto de vista financeiro e climático ao mesmo tempo.

Potenciais da América Latina

Segundo Bruna, a Positive Ventures aposta em empresas estrangeiras e americanas que possam gerar impacto na América Latina. “Ajudamos a trazer as operações dessas empresas para o Brasil. Acredito que o ecossistema tem se desenvolvido bastante e vai crescer nos próximos anos”, afirma. 

A executiva ressalta os potenciais da região, especialmente na agricultura de precisão, regenerativa e na descarbonização da cadeia de mineração. Para ela, este setor será essencial para o crescimento da inteligência artificial, por ser altamente demandante em energia. “O agro é muito rentável para o Brasil e também é onde mais soluções sustentáveis podem ser criadas”, destaca.

Já Penna aponta a comercialização de carros elétricos usados e a gestão de resíduos como mercados com grande potencial de expansão na América Latina. “A economia circular tem público aqui. Por exemplo, estou interessado em um iPhone que tenha uma segunda ou terceira vida. Isso permitiria o acesso a classes C e D, que atualmente não conseguem adquirir esse tipo de equipamento”, considera.