
Mobilidade em Transformação: como a cocriação entre indústria e operação está desenhando o futuro do transporte rodoviário
Imagine um futuro em que viajar de ônibus seja uma experiência tão fluida, conectada e confortável quanto estar em casa. Tudo possível graças a tecnologia de ponta, design focado no usuário e uma jornada que começa muito antes da pessoa embarcar. Agora imagine esse futuro sendo construído não apenas dentro de fábricas ou escritórios, mas em um ambiente de cocriação, onde a indústria e a operação se sentam lado a lado para redesenhar, juntos, o transporte rodoviário.
Foi exatamente esse o pano de fundo do projeto colaborativo entre a Marcopolo e a Viação Ouro e Prata, que culminou em um workshop promovido pelo Instituto Caldeira. Mais do que um evento, esse encontro marcou a consolidação de uma nova forma de pensar mobilidade: conectada, empática e aberta à inovação.
Durante meses, equipes das duas empresas – uma referência na fabricação de ônibus e outra na operação de transporte – emergiram nos mundos uma da outra. Essa aproximação não surgiu do nada. “Desde 1939 nossos ônibus têm carroceria Marcopolo“, conta Luana Fleck, diretora do Grupo Ouro e Prata. Segundo ela, a sinergia entre as empresas vai muito além da relação cliente-fornecedor: compartilham valores como qualidade, visão de longo prazo e foco no passageiro. “Essa troca de visão entre quem está na operação diária e quem está na fábrica está trazendo inovações concretas e melhorando o conforto do passageiro”, afirma.
O ponto central dessa colaboração foi transformar uma relação comercial em uma experiência de aprendizagem mútua. “Sempre testamos ideias juntos. Agora fizemos isso de forma estruturada”, explica Alexandre Cruz, Head Executivo da Marcopolo Motorhome e Head de Investimentos e Novos Negócios da Marcopolo S.A. Essa estrutura veio na forma de um programa de imersão 360º entre as equipes, batizado de MVPs, uma comunidade de inovação criada dentro da Marcopolo para transformar boas ideias em projetos concretos.
Os profissionais da Ouro e Prata visitaram a fábrica da Marcopolo em Caxias do Sul para entender desde os processos de montagem até as estratégias de produto. Do outro lado, colaboradores da Marcopolo foram até as garagens, rodoviárias e até destinos finais das viagens, vivenciando a rotina do passageiro. Essa troca direta trouxe aprendizados valiosos. “Capturamos o feedback do cliente de forma estruturada, trabalhamos esses dados e conseguimos melhorar o produto e a experiência como um todo”, diz Cruz. Esse tipo de aproximação é raro na indústria e aponta para um novo modelo de inovação, aquela que nasce do chão de fábrica, mas também do asfalto.
Um dos principais desafios do projeto foi conciliar agendas e promover a interação real entre as áreas. “A gente não para no dia a dia para olhar, estudar e desenvolver um novo tipo de serviço ou tecnologia”, reconhece Luana. Mas o esforço trouxe resultados palpáveis, como melhorias como conectividade via satélite, portas USB nas poltronas e recursos de segurança embarcados passaram do papel à execução. Algumas dessas novidades já estão disponíveis nos veículos; outras, segundo Luana, ainda são surpresa para os passageiros.
A colaboração entre as empresas foi catalisada por um ambiente maior: o ecossistema de inovação do Instituto Caldeira, que serviu como ponte para ampliar horizontes. Para Alexandre, o Caldeira tem dois papéis fundamentais.
Ele é um hub que nos conecta a soluções que talvez não encontraríamos sozinhos, mas também é um ambiente de relacionamento profundo com nossos parceiros. Uma grande casa da inovação.
“Estar inserido em um ecossistema assim nos ajuda a não sermos pegos de surpresa. Traz insights do que está acontecendo no mundo todo”, reforça Luana.
Mas quais tendências realmente estão moldando o futuro da mobilidade? Os dois executivos convergem em dois macrotemas: descarbonização e Inteligência Artificial. Do lado ambiental, o desafio está em adaptar soluções como os ônibus elétricos à realidade da infraestrutura brasileira. “Ainda não temos condições para uma eletrificação em massa no transporte de longa distância, mas é uma tendência que precisa ser monitorada de perto”, afirma Luana. Do ponto de vista tecnológico, a mobilidade autônoma já é realidade. “A Marcopolo lançou o primeiro ônibus autônomo da América Latina no ano passado. Isso vai revolucionar e já está revolucionando o setor”, diz Alexandre.
Por trás de todos esses avanços, está uma premissa simples, a de ouvir o passageiro. “A experiência do usuário precisa ser o ponto de partida. É com ele que está a chave para a inovação real”, reforça Cruz. A união entre Marcopolo e Ouro e Prata é, acima de tudo, um exemplo de como a inovação não precisa ser solitária, mas sim construída a várias mãos, com diálogo, empatia e visão de futuro.