
Inovação energética exige paciência, capital de risco e visão de futuro
Durante a Missão a Londres organizada pelo Instituto Caldeira em parceria com a Invest RS, representantes de empresas, academia e governo tiveram a oportunidade de conhecer in loco algumas das iniciativas mais avançadas do mundo em inteligência artificial, deep techs, computação quântica e transição energética. A missão reforçou que inovação exige articulação estratégica, pensamento de longo prazo e capacidade de adaptação constante às transformações tecnológicas e culturais em curso.
Bruna Hermes, do IEL-RS, traz a seguir seus principais insights a partir da experiência na capital britânica. Em cada tópico, ela compartilha uma percepção direta da missão, seguida de uma contextualização com base nos aprendizados e nas discussões promovidas ao longo da jornada.
Por Bruna Hermes, do IEL-RS
1. “Qualidade e governança de dados são essenciais para aplicações eficazes de IA.”
🔍A visita a empresas como Oracle deixou evidente que a qualidade dos dados é o novo diferencial competitivo. Sem uma base sólida de dados bem estruturados, modelos de IA se tornam ineficazes ou até perigosos. Além da curadoria técnica, aspectos como privacidade, transparência e rastreabilidade são agora parte indissociável do desenvolvimento de soluções com Inteligência Artificial.
2. “Desafios regulatórios e éticos crescem com o avanço da IA.”
🔍 A crescente sofisticação dos modelos de IA, especialmente os generativos, impõe desafios complexos sobre uso responsável, viés algorítmico e impactos sociais. No Reino Unido, o debate sobre regulação está cada vez mais presente, com foco em equilibrar inovação com segurança. A missão mostrou que empresas e governos precisam construir juntos frameworks éticos e legais adaptáveis ao ritmo exponencial do avanço tecnológico.
3. “A transição vai de IA tradicional → IA generativa → agentes autônomos.”
🔍Essa linha evolutiva foi um dos pontos mais discutidos em empresas como a Cohere. Hoje, muitos setores ainda estão incorporando IA tradicional, mas as fronteiras já avançam para modelos generativos, como o ChatGPT e, futuramente, agentes autônomos que tomam decisões e atuam no mundo real. Isso muda o jogo em termos de automação, supervisão e confiabilidade dos sistemas.
4. “A cultura organizacional precisa se adaptar à nova era de decisão orientada por dados.”
🔍 Transformar dados em decisões estratégicas não é apenas uma questão técnica, mas cultural. Em Londres, empresas com alta maturidade digital mostraram que só é possível extrair valor da IA quando as lideranças e times operam com uma mentalidade analítica. A missão reforçou a necessidade de treinar talentos, revisar processos e estimular uma cultura baseada em dados e experimentação constante.
5. “Roadmap de computação quântica com ‘Starling’ (200 qubits lógicos até 2029).”
🔍O roadmap apresentado pela IBM Quantum mostra que a corrida pela computação quântica deixou de ser conceitual. Com o projeto Starling, a meta é alcançar 200 qubits lógicos até o final da década — o que abriria novas fronteiras para simulações moleculares, otimização logística, finanças e segurança cibernética. Essa agenda exige investimentos robustos e mão de obra altamente qualificada.
6. “Empresas precisam de estratégias claras para dados próprios.”
🔍Na era da IA, dados são o novo ativo estratégico. Um ponto-chave da missão foi entender que empresas que não dominam seus próprios dados ficarão dependentes de terceiros, inclusive concorrentes com menor capacidade de inovação. Ter uma governança clara, estrutura de coleta e reuso de dados, e políticas internas de valorização desse ativo se torna vital.
7. “Energia limpa e promissora até 2040 — a fusão nuclear ainda enfrenta desafios técnicos, mas, quando esses forem superados, ela será nossa ‘energia limpa do futuro’, pois não emite CO₂ durante a geração de energia, não gera resíduos radioativos de longa duração, como ocorre na fissão, e utiliza combustíveis abundantes, como o deutério e o trítio.”
🔍 Durante a visita à UK Atomic Energy Authority, a fusão nuclear apareceu como um dos grandes marcos possíveis da transição energética global. Ainda há obstáculos técnicos significativos, mas os benefícios são imensos: uma energia quase ilimitada, segura e com baixíssimo impacto ambiental. Londres mostrou como inovação energética exige paciência, capital de risco e visão de futuro.
8. “Investimentos de longo prazo em tech com foco estratégico.”
🔍 Empresas destacaram a importância de investimentos com horizonte de 10 a 15 anos em tecnologias transformadoras. Londres se posiciona como um polo que pensa inovação de maneira estratégica, articulando Estado, capital privado e centros de pesquisa. Esse modelo é uma referência para quem quer construir soluções com impacto real e duradouro.
9. “Ecossistemas fortes exigem articulação estratégica entre atores locais e globais para gerar inovação com propósito e impacto regional.”
🔍 Um dos aprendizados centrais da missão foi a importância da colaboração. A inovação com propósito nasce da interação constante entre universidades, empresas, investidores e formuladores de política pública. Londres é exemplo dessa arquitetura colaborativa que articula interesses globais com necessidades locais. Para o Brasil, esse é um convite à construção de ecossistemas integrados, com visão de impacto e protagonismo regional.
Ainda em 2025, o Instituto Caldeira irá realizar mais duas missões internacionais. Em agosto, ocorre a Missão ao Vale do Silício, com foco em Inteligência Artificial. Em outubro, a missão será na China, com o tema Tecnologia & Infraestrutura. Para saber mais acesse o link.