Filosofia ‘Chutzpah’ pode acelerar no Brasil a partir dos hubs de inovação, diz Inbal Arieli
Chutzpah é a filosofia usada para definir a veia empreendedora que Israel desenvolveu e transformou o país em um dos principais ecossistemas de inovação do mundo. Na tradução literal, a palavra iídiche quer dizer ‘ousadia’, mas na verdade ela significa muito mais para a cultura israelense.
“Chutzpah não é apenas um elemento, mas um conjunto de habilidades intrínsecas ao ser humano. Toda comunidade pode, sim, fazer com que essas características floresçam entre as pessoas, mas vai depender do objetivo que se quer alcançar”, explica a escritora israelense e investidora em série, Inbal Arieli, em sua primeira visita ao Brasil.
Autora do livro “Chutzpah: Porque Israel é um hub de inovação e empreendedorismo” – recentemente traduzido para o português – Inbal foi um dos destaques da Semana Caldeira, que acontece em Porto Alegre, entre 18 e 22 de setembro.
Ela apresentou um pouco mais sobre os conceitos dessa filosofia para uma arquibancada lotada e contou como o Chutzpah está presente em todas as fases de amadurecimento da sociedade israelense.
Tudo começa na infância, conta Inbal:
“As crianças israelenses não são especiais, mas são livres. Basta comparar um parquinho na Suíça com outro em Israel. Em nosso país, o parquinho é um caos, não existem regras de convívio. Mesmo assim, não há nenhum indicador apontando que nossas crianças se machuquem mais do que as de outro país”.
Ou seja, a liberdade é a primeira fagulha de ousadia que o país desperta em seus nativos.
Segundo a especialista, a cultura Chutzpah está impregnada do ensino básico às universidades do país, das forças armadas ao planejamento governamental, passando, é claro, pelas relações de negócios e empreendedorismo.
Curiosamente, Inbal viveu todas essas etapas, sendo inclusive tenente na Unidade 8200, a mais tecnológica e disputada das Forças Armadas.
Em Israel, o alistamento militar é obrigatório para homens e mulheres e ajuda a moldar o espírito empreendedor dos israelenses, pois embora Israel viva em constante conflito armado, o Exército ensina muito mais do que táticas de guerrilha.
Lembra daquelas crianças cheias de liberdade? Elas não se encaixam em um modelo de disciplina e autoridade, diz Inbal.
A metodologia militar de Israel se opõe à tradicional disciplina e hierarquia que são cobradas na maioria dos quartéis, e repassa valores como autonomia para resolução de problemas; poder de improviso; saber aprender com as falhas; tomar decisões rápidas e, acima de tudo, ser persistente.
Outro ponto é a relação direta do departamento de Segurança e Defesa com a iniciativa privada e o ambiente acadêmico. Inbal também surfou esta onda: em 2010, a empreendedora fundou a primeira aceleradora de startups do país, a 8200 EISP, focada em apoiar o desenvolvimento de negócios capitaneados por ex-alunos da unidade militar de elite.
Mas, afinal, o que é Chutzpah?
Em síntese, a filosofia Chutzpah carrega os seguintes princípios:
1 – Abrace a incerteza: ela está em todo o lugar;
2 – Aprenda a navegar e se adaptar;
3 – Ouse falhar: não tenha medo de cometer erros ou de estar errado;
4 – Desafie o óbvio: “Olhe para a realidade existente, entenda o cenário para então agitar as coisas e criar uma nova ordem”;
5 – Questione: Por que? Como? Por que de novo? E de novo e de novo…;
6 – Colabore com aqueles ao seu redor, mas sempre permaneça responsável;
7 – Faça acontecer.
Chutzpah é uma palavra que pode representar a transformação de cidadãos em empreendedores criativos, destemidos e resilientes. O termo sintetiza a mudança da matriz econômica de Israel, iniciada no início dos anos 90, fruto da união de empresas, governo e academia, que tornou o país em um polo de tecnologia e pesquisa aplicada. Hoje, Israel é líder em número de startups e fundos de venture capital do mundo. Todas as bigtechs, como Google, Amazon e Meta, têm operações no país.
E Chutzpah funciona no Brasil?
Uma das dúvidas que Inbal buscou esclarecer em sua visita é: será que essa filosofia que mudou Israel, um país do tamanho do menor estado brasileiro, pode ser – e como – aplicada em um país de proporções continentais como o Brasil?
Na visão da autora, isso é possível sim. No entanto, por caminhos diferentes ao que trilhou Israel. Isso porque, se a disseminação dessa filosofia depender de um grande projeto educacional do governo, vai demorar demais e talvez não aconteça. Então, paralelamente às iniciativas públicas, os ecossistemas de inovação podem acelerar o espírito de ousadia de cima para baixo.
Pelo que estou vendo, o Caldeira tem um papel fundamental para despertar o Chutzpah em seu ecossistema de inovação.
A Semana Caldeira acontece entre 18 e 22 de setembro e reúne grandes nomes do mercado e da nova economia e governos para discutir sobre o futuro da educação, das novas tecnologias e como a inovação permeia todos esses temas.
O painel completo de Inbal Arieli e todos os conteúdos da agenda Caldeira estão disponíveis no APP para ver e rever. Se você é membro da comunidade Caldeira, baixe o app do Instituto Caldeira na Apple Store ou Play Store.