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Deep techs: onde ciência, propósito e impacto se encontram

A inovação mais transformadora nasce da intersecção entre tecnologia de ponta, conexões humanas e impacto real. A fala de Marcella Falcão, head de Growth no Cubo Itaú, durante o Web Summit Rio 2025, sintetiza o espírito das deep techs, startups que têm na ciência e no propósito os pilares para gerar impacto duradouro. 

E é para conhecer de perto iniciativas que estão redesenhando o futuro que o Instituto Caldeira embarca para mais uma experiência internacional. Dos dias 22 a 27 de julho, acontece a missão a Londres, uma das capitais globais da inovação.

O objetivo é aprender com o que há de mais avançado no mundo e fortalecer o ecossistema nacional de inovação, promovendo uma nova geração de empresas capazes de unir conhecimento profundo, propósito claro e impacto real. 

No Brasil, já existem mais de 870 deep techs no país, e a expectativa do BID é de que esse número cresça 20 vezes na próxima década. Embora o Brasil ocupe o segundo lugar na América Latina nesse tipo de empreendimento, atrás apenas da Argentina, de acordo com a Emerge Brasil, apenas 30% dessas startups conseguiram chegar ao estágio de comercialização e escala — a maioria ainda está em fase de validação tecnológica.

Apesar do potencial, o acesso à capital permanece como um dos principais entraves. Em 2023, 84,5% dos investimentos de venture capital foram direcionados a negócios digitais, segundo o Emerge Brasil, deixando uma parcela mínima para empresas de base científica. 

O estudo ainda aponta que, no primeiro trimestre de 2025, o investimento global em venture capital foi de US$ 126,3 bilhões, puxado por megadeals em áreas como inteligência artificial e biotecnologia — áreas centrais para as deep techs. No Brasil, embora o volume seja mais modesto, houve um crescimento de 20% em 2024, com R$ 1,5 bilhão investidos.

Um fator adicional de desafio é o descompasso entre a produção científica e o mercado, já que boa parte das pesquisas realizadas em universidades não chega à sociedade. Outro obstáculo recorrente é a falta de regulamentação, como no caso das empresas que trabalham com cânhamo industrial — insumo sem marco legal no Brasil, mas com alto potencial para a indústria têxtil.

No entanto, os dados do relatório da Emerge revelam uma lacuna preocupante: apenas 20% do capital de risco no Brasil foi destinado a empresas fundadas por mulheres. Além da sub-representação, empreendedoras relatam que muitas vezes precisam provar seu valor duas vezes mais, enfrentando não apenas as dificuldades estruturais do setor, mas também barreiras culturais. Ainda assim, há sinais de mudança. Segundo o Sebrae, o número de startups lideradas por mulheres saltou de 8,6% para 31% entre 2023 e 2025.

Iniciativas de futuro na agenda

A missão do Instituto Caldeira a Londres visa ampliar horizontes, promover conexões internacionais e fomentar a aproximação entre ciência e mercado. A agenda inclui visitas a empresas como a IBM Quantum, líder global em computação quântica que colabora com mais de 225 instituições ao redor do mundo.

Outros destaques incluem o Oxford Tech Park, parque dedicado às deep techs e ciências da vida; a East X Ventures, fundo de capital de risco que lançou o primeiro fundo privado do Reino Unido voltado à energia de fusão nuclear; e a Innovate UK, agência pública que investe em média £1 bilhão por ano no ecossistema britânico de inovação.

A presença em locais como a UCL Biology Lab, referência em pesquisa interdisciplinar sobre doenças humanas, e a conexão com startups como a Cohere, especializada em IA generativa, também reforçam o objetivo de aproximar o Brasil das fronteiras globais da ciência aplicada.