
Como grandes empresas estão transformando cultura em novos negócios escaláveis
No contexto de transformação constante e disrupção nos modelos tradicionais de negócios, empresas como a Gerdau e Randoncorp têm mostrado que inovação não é exclusividade de startups. Ambas vêm protagonizando movimentos importantes de reinvenção a partir da abertura ao novo — e, principalmente, ao externo. No painel “Novos negócios: da ideia à escala”, realizado durante o Innovation Day Gerdau, no Instituto Caldeira, as lideranças das duas companhias compartilharam suas experiências nessa jornada.

Com 76 anos de trajetória, a Randoncorp iniciou sua virada em 2016, num dos momentos mais críticos do setor automotivo. Para Daniel Randon, CEO da companhia, a crise foi também um catalisador de mudança. “Foi ali que percebemos a necessidade de revisar conceitos e mudar o mindset das lideranças”, comenta. A partir de 2017, a empresa intensificou suas conexões com o ecossistema de inovação, promovendo encontros com startups, aceleradoras e outras companhias da serra gaúcha, como Marcopolo, Florense e Soprano. “A colaboração entre empresas com desafios semelhantes mostrou-se essencial para avançarmos”, destaca.
Hoje, a Randoncorp colhe os frutos da transformação. Criou sua própria corporate venture, a Randon Ventures, por meio da qual já investiu diretamente em cinco startups e indiretamente em cerca de trinta, sempre com aportes estratégicos entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões.
O objetivo não é controlar, mas nos aproximar do mundo digital, dos clientes e da informação em tempo real.
Além disso, a empresa incentiva a formação de comitês internos com foco em quatro pilares: retorno financeiro, alinhamento com o setor automotivo, futuro da mobilidade e sustentabilidade — tudo isso com forte viés em digitalização industrial.
Na Gerdau, o movimento teve início em 2013, com uma profunda transformação cultural. “Foi um processo de troca de executivos e reestruturação de mindset. Percebemos que para inovar, precisaríamos aceitar o erro como parte do caminho”, relembra Elder Rapachi, diretor-executivo da Gerdau Next. Essa visão resultou em uma estrutura dedicada a novos negócios, paralela às operações tradicionais da companhia.

A Gerdau Next, por meio de seu fundo de venture capital, passou a investir em startups e criar programas de aceleração com foco em teses estratégicas. Um exemplo é a Adiante, empresa criada a partir de um ciclo de aceleração com foco no setor de locação de veículos, um antigo sonho da Randoncorp que encontrou, na parceria com a Gerdau, o fit cultural necessário para acontecer.
A maturidade das iniciativas também vem de um entendimento mais profundo sobre o papel da cultura organizacional nesse processo. Daniel reforçou que é preciso aprender a confiar nas pessoas, a delegar e permitir a colaboração real. “Hoje, a informação está na palma da mão. Não dá mais para centralizar tudo. A liderança precisa mudar sua forma de agir.” Segundo ele, é essa mudança de mentalidade que torna possível o casamento entre grandes organizações e startups — ainda que falem “dialetos diferentes”.
Ambos os executivos concordam que a inovação aberta só é bem-sucedida quando acompanhada de uma visão de longo prazo, confiança dos acionistas e disposição para errar. Elder destacou que, em venture capital, errar faz parte do jogo:
Você vai perder dinheiro em nove de dez investimentos, e precisa estar preparado para isso. Mas o aprendizado é o que transforma.
A escolha por parcerias com teses bem alinhadas, o foco em negócios com impacto sustentável e a construção de ambientes de troca, como o Innovation Day e o próprio South Summit Brasil, são elementos-chave nessa jornada.
Mais do que criar startups ou investir em tecnologia, Gerdau e Randoncorp estão redesenhando seus papéis no ecossistema de inovação. Ao se abrirem para o novo e cultivarem uma cultura colaborativa e ágil, mostram que tradição e futuro podem — e devem — caminhar lado a lado.