ChatGPT amplia conversas com Inteligência Artificial, mas exige cuidados
O ChatGPT inaugurou a nova era da IA e o Instituto Caldeira reuniu especialistas para comentar sobre como a ferramenta está impactando o mundo.
Um dos assuntos mais pesquisados na web e analisados pela mídia nas últimas semanas, o ChatGPT conseguiu ampliar o buzz em torno da Inteligência Artificial (IA) e, claro, sobre os seus dilemas éticos. Desenvolvido pela OpenAI, o chatbot chama atenção pela capacidade de buscar, resumir e construir textos a partir de perguntas feitas pelos usuários.
Claro que as big techs já trabalham em soluções similares, mas o fato é que a OpenAI se antecipou. Chegou ao mercado causando frisson, já assinou um contrato de US$ 10 bilhões com a Microsoft, segundo o The New York Times, e levou o Google a declarar que trabalha em uma IA conversacional chamada Bart.
A verdade é que ferramentas baseadas em Inteligência Artificial, como o ChatGPT, DALL-E e Midjourney, estão chegando cada vez mais perto do usuário final. Por um lado, o fascínio de ‘falar’ e ser entendido pela máquina tem levado o mundo a uma versão futurista de si próprio; por outro,o receio do quanto essas informações são fidedignas, paira sob nossas cabeças – e com razão de ser.
A Inteligência Artificial já está entre nós há muito tempo, sendo aplicada em serviços de chatbots e diversas outras automações. A revolução trazida por ferramentas como o ChatGPT, no entanto, é justamente a capacidade de diálogo muito mais imersivo com os usuários, fornecendo respostas mais autorais.
O sucesso do ChatGPT se deve ao fato de que a tecnologia de IA, que sempre foi um pouco hermética e difícil de entender, finalmente alcançou o que o imaginário coletivo sempre esperou dela, afirma Alex Winetzki, CEO de Inteligência Artificial da Woopi, empresa que é membro do Instituto Caldeira.
Em dois meses, cerca de 100 milhões de pessoas usaram o ChatGPT. Em fevereiro, a OpenAI, startup responsável pela ferramenta, lançou uma versão paga do chatbot para o público brasileiro – o custo é de US$ 20.
O chefe de ciência e cofundador da Alana AI, Marcellus Amadeus, comenta que o que mais chama a atenção nessas novas aplicações em IA, como o ChatGPT, é sua capacidade de atingir milhões de pessoas não especialistas em IA e, especialmente, em tão pouco tempo. A Alana AI é uma startup do hub que já participou do programa Ebulição Startups do Instituto Caldeira.
Já no mundo corporativo, as novas ferramentas de IA que ganharam o mercado devem acelerar ainda mais os processos, desde escrever um email até uma campanha de publicidade, um roteiro de cinema ou uma estratégia de produto.
Praticamente qualquer atividade que demande a compreensão e manipulação de informação será impactada. O mais óbvio são plataformas de atendimento, mas também estamos falando de professores e instrutores de qualquer coisa, advogados e paralegais, analistas de dados, artistas gráficos, jornalistas, publicitários, acrescenta Winetzki.
Novas profissões também deverão emergir diante o boom da IA dentro das empresas. Segundo especialistas, o futuro do mercado será formado por engenheiros prompts. Estes profissionais já existem e são responsáveis por desenvolver, treinar e gerenciar modelos de linguagem, como o ChatGPT.
No futuro, todos terão parte da função dos engenheiros prompts. Por exemplo, um designer não terá mais que usar programas como Photoshop para fazer peças publicitárias, mas terá que saber dar os comandos precisos para que a IA faça o trabalho.
Na visão de Luís Lamb, especialista em IA e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), haverá um período de reformatação das profissões.
Na mesma medida em que os computadores tomaram o lugar de várias funções que eram repetitivas, como fazer contas e operações meramente contábeis, as pessoas passaram a ocupar posições onde se exige o raciocínio – essas não perderam os seus empregos. Agora, pessoas que vivem da escrita, vão poder utilizar mecanismos como esse, inclusive, para melhorar o seu texto e sua argumentação, explica Lamb.
O que é a taxa de alucinação
O uso indiscriminado do ChatGPT tem provocado debates sobre o futuro das profissões e, principalmente, sobre como a ferramenta vai afetar o ensino, visto que, embora todas as respostas da IA do ChatGPT pareçam corretas, em muitos casos não são, e o controle sobre o que é fato e fake nessas plataformas é nulo.
Segundo Amadeus, pesquisas recentes apontam que o ChatGPT tem 20% de taxa de alucinação (termo que utilizamos quando a IA produz uma informação falsa ou distorcida). Ou seja, 1 em cada 5 respostas pode conter uma informação falsa ou distorcida.
Ainda não há um consenso sobre como isso pode ser realmente resolvido, se é que é possível resolver completamente. A supervisão humana tem sido aplicada em escala para diminuir essas tendências inapropriadas e novas formas de verificar as informações têm sido desenvolvidas, por exemplo, no Bing o ChatGPT cita algumas das fontes que utilizou” ressalta.
Lamb, que atualmente está nos Estados Unidos cursando um MBA em Inovação e Tecnologia no Massachusetts Institute of Technology (MIT), também adverte que o ChatGPT e outras tecnologias chamadas de modelos grandes de linguagem, Large Language Models (LLM), ainda oferecem muitas limitações. “Esses modelos ainda inventam fatos e tem um problema de semântica, ou seja, não baseiam suas inferências numa correspondência com a realidade”, analisa.
O CEO da Woopi, Alex Winetzki, adverte que não há nenhum controle ou legislação, em qualquer lugar do mundo, que trate do uso responsável de IA. Portanto, a ética depende do usuário.
Podemos usar a ferramenta para criar peças de marketing com mais eficiência, mas também podemos criar uma troll farm para desestabilizar eleições, ou ainda deep fakes de voz ou vídeo, comprometendo reputações públicas ou relacionamentos privados, tudo em segundos, alerta.