
Brasil se encontra em uma “espiral de polarização”, diz Bosco
Banrisul apresenta:
O escritor, filósofo, intelectual e apresentador Francisco Bosco foi uma das atrações do primeiro dia da Semana Caldeira 2025. Bosco participou de um bate papo com o jornalista Luciano Potter, onde discutiu a polarização política no Brasil e sua vida como intelectual público, passando pela relação entre vida pessoal e obra.
Um dos pontos centrais do painel foi a polarização política que vem se intensificando no Brasil nos últimos anos. Bosco afirma que o país se encontra em uma “espiral de polarização“, que, amplificada pelas redes sociais, subverteu o debate público, fazendo com que conceitos essenciais da ciência e da filosofia política fossem “completamente distorcidos”.
Polarização é quando o conjunto das posições que tendem a um centro são suprimidas e o debate público é submetido a uma força centrífuga, né, que todo mundo vai tende a ir pros extremos.
O escritor abordou uma série de mudanças sociais que, segundo ele, resultam na deterioração dos laços humanos, notando que a polarização transformou as pessoas em meros representantes de categorias, o que inviabilizaria o conceito de amizade. Ele afirma que a fratura social, onde o debate público é submetido a uma força centrífuga, exige um resgate da singularidade humana.
“A amizade só existe entre indivíduos, não entre grupos; no momento em que a polarização nos faz olhar os outros apenas como representantes de categorias, não há amizade possível, nem mesmo na vida social e familiar, tornando o ambiente completamente hostil e suprimindo o centro, de forma que o que temos que ser capazes de resgatar é a singularidade que define cada ser humano, reintroduzindo o indivíduo na política.”

Sobre seu trabalho, disse que não tem como se desvincular de sua vida. “A minha vida particular entra radicalmente na minha obra. Vou parafrasear Caetano Veloso: todas as minhas músicas são sobre mim. Até as que não são. Ninguém tem uma visão de mundo descolada do seu lugar de anunciação. O pensamento é sujo porque ele é feito das impurezas da vida. Ele é repleto de experiência”, destacou o autor do livro Meia Palavra Basta.
A discussão foi direcionada para a evolução da parentalidade, contrastando a “hipoparentalidade”, de sua formação nos anos 1980, com a “hiperparentalidade” ou “infantocracia” atual, na qual pais super protetores criam ambientes “patéticos” sem risco. Bosco defende que alguns pais estão errando ao exercer um super controle em nome da liberdade, muitas vezes motivado pelo narcisismo.
“Tenho uma premissa na minha parentalidade que é introduzir uma dimensão de risco, pois o que cabe a nós como pais e mães é nos formarmos e formarmos nossos filhos como sujeitos que se responsabilizam não apenas pelo seu florescimento individual, mas pelo florescimento da vida da sua comunidade”, afirma.