Tinga

Autenticidade sustenta reputações no esporte, nos negócios e na vida, acredita Tinga

Banrisul apresenta:

“Estou me sentindo em um estádio, já tem mais gente que o último Gre-Nal”, brincou Paulo César Tinga ao abrir sua fala no painel Dos gramados aos negócios: a jornada empreendedora de Paulo César Tinga. O bom humor foi apenas a porta de entrada para uma reflexão profunda sobre vida, escolhas, propósito e verdade.

Ex-jogador da dupla Gre-Nal e com passagens marcantes no futebol brasileiro e internacional, se reinventou após deixar os gramados. Ao longo da conversa, reforçou mais de uma vez a ideia da verdade como base de tudo.

“A única coisa que deu certo ontem, hoje e amanhã é a verdade. O fato de eu estar aqui e não enxergar toda a plateia, de tanta gente, é por causa da verdade.” Essa autenticidade, acredita, é o que sustenta reputações no esporte, nos negócios e na vida.

Hoje, o ídolo é empreendedor, mentor e líder de projetos sociais que buscam transformar realidades. Durante sua participação na Semana Caldeira, compartilhou histórias pessoais e aprendizados que norteiam sua caminhada.

Resgatou suas origens ao falar da família. Filho de pais separados, morador da Restinga, Tinga enfrentou grandes dificuldades após a saída do pai de casa. Foi a mãe, trabalhando em longas jornadas, quem segurou a estrutura familiar.

Ele lembra de acordar de madrugada com o barulho da mãe saindo para mais um turno de trabalho. “Minha mãe saía para trabalhar com a sacola vazia e voltava com a sacola cheia. Eu entendi naquela época que o trabalho era bom, pois era o que trazia comida para dentro de casa”, contou. Aquela percepção infantil se transformou em uma certeza adulta: o esforço é a única forma concreta de mudar a própria vida quando não se nasce com privilégios.

No futebol, os testes e as reprovações foram parte do caminho. Torcedor do Sport Club Internacional, quando foi participar de uma seleção no clube do coração, foi reprovado. Mais alguns ‘nãos’ o ex-atleta ouviu até ser convidado a participar de um teste no time rival.

O dia do primeiro teste no Grêmio foi um divisor de águas na sua vida. Ao se dirigir para o clube, Tinga encontrou três amigos na esquina, próximo ao ponto de ônibus. Quando questionado sobre para onde ia, respondeu baixinho que estava indo fazer o teste no Grêmio.

“Eles começaram a rir e disseram ‘Tu é colorado, não vai passar. É mais fácil ficar aqui na esquina’. Eu tinha 15 anos na época, e já tinha sido reprovado em outros, ali foi quando eu tomei a decisão”, lembrou. Próximo ao ponto de ônibus, o jovem cheio de sonhos e com muitas dúvidas subiu no coletivo, realizou o teste e passou. “Aí começou uma jornada de três anos. Aquela ação de subir no ônibus determinou meus 20 anos de carreira no futebol”, emociona-se.

Para vocês, jovens, não sei qual o ônibus da vida vocês estão, mas tudo é sobre tomar decisão. Desde abrir um e-mail até não ir para uma aula. Toda vez que você tomar uma decisão, vai receber um brinde, um presente, que é a consequência. Para tomar decisão tem que ter coragem, e tomar decisão é o que muda tudo.

Esse olhar se repetiria em outros momentos, inclusive quando viveu a ascensão repentina no esporte. Do salário modesto ao contrato de dezenas de milhares de reais, a virada foi tão rápida quanto arriscada. “As mudanças muito rápidas que acontecem na nossa vida são perigosas. Ninguém está preparado para dormir recebendo 800 reais e acordar ganhando 20 mil”, alertou, mostrando que o sucesso, se não for acompanhado de preparo, pode desestruturar.

Quando encerrou a carreira nos gramados, Tinga se jogou no mundo dos negócios. O primeiro empreendimento foi uma agência de turismo, que começou de forma incerta, mas hoje atende atletas e clientes em diferentes partes do mundo. Para ele, mais importante que preço é a relação construída com o cliente. “Não tem problema pagar um pouco a mais se o cliente confiar. Confiança é tudo.”

A transição também o levou a retomar os estudos já adulto, enfrentando o desconforto de voltar para a sala de aula depois de anos fora. O momento em que levantou a mão para fazer uma pergunta se tornou um marco. Ele percebeu que, ao expor sua dúvida, não apenas encontrou ajuda, mas também inspirou outros que tinham a mesma dificuldade. “O que move o mundo são as perguntas. A curiosidade move o mundo”, afirmou. Essa postura o aproximou de empresários e empresas, como a Marcopolo, e abriu portas para novas parcerias.

Aproveitem, porque vocês têm algo e uma oportunidade que muitos, como eu, não tiveram. Vocês que estão aqui querem realmente transformar suas vidas e transformar o mundo. Mas lembrem: não tem como transformar o mundo sem transformar nossa vida primeiramente.

Na visão do ex-jogador da dupla Gre-Nal, tão importante quanto fazer perguntas é se posicionar. Ele criticou a forma como a sociedade muitas vezes valoriza produtos, mas não reconhece devidamente o trabalho humano. “O mais difícil é valorizar serviço, mão de obra. Precisamos valorizar as pessoas”, disse. “Robô não vende para robô”. Para ele, a tecnologia é essencial, mas nunca poderá substituir a dimensão humana nas relações.