Amyr Klink aos empreendedores: em 100 dias de viagem, sabia que tempestades viriam, mas não parei na primeira
Passados anos de planejamento da rota náutica, do estoque de suprimentos e a construção do barco que faria o jovem Amyr Klink cruzar pela primeira vez – a remo e sozinho – o Oceano Atlântico, tudo estava pronto para zarpar. A viagem da África à Bahia levaria 100 dias, pelos cálculos do navegador, mas antes de sair um funcionário do porto da Namíbia o alertou: “Você não pode ir agora, tem uma tempestade se formando em mar aberto”.
Amyr Klink ignorou o alerta e partiu mesmo assim para a sua primeira aventura, no longínquo ano de 1984. Durante o percurso, o barco virou três vezes, mas sempre foi possível desvirá-lo, pois ele desenvolveu um sistema anticapotagem pioneiro.
Todo o projeto a longo prazo vai passar por adversidades, então é preciso estar preparado. Era muito difícil que, em 100 dias de viagem, eu não cruzasse por nenhuma tempestade, então não iria parar por causa da primeira.
Esta é uma entre as muitas lições que a história de Klink traz para quem as escuta. Elas são verdadeiras metáforas sobre as relações pessoais e, principalmente, para quem vive de empreender.
Responsável por 20 expedições marítimas, 15 delas para Antártica, e autor de livros consagrados que contam suas experiências ao mar, Klink foi um dos painelistas da Semana Caldeira, onde sintetizou suas aventuras.
Voltando à viagem de estreia, Amyr notou que não estava navegando as milhas náuticas necessárias para cumprir, em 100 dias, a travessia. Ele precisava acelerar suas remadas. O fez e cumpriu seu prazo, o que lhe deu, somado às pequenas refeições, um novo físico quando chegou à Bahia.
Ele conta que isso o deixou tão orgulhoso quanto ter chegado no exato ponto que pretendia, 100 dias depois, ao atracar na costa brasileira.
“O ser humano é o único animal do mundo que consegue sempre ter um incremento de eficiência. Tudo que a gente faz hoje, podemos fazer melhor amanhã, e foi isso que fiz”.
Mas o que o deixava mais feliz em sua chegada era que, pela primeira vez, ele tinha sido protagonista de um projeto, após anos de planejamento, desejo e muitos conselhos para que não o fizesse. Klink conta essa história com detalhes no livro “Cem dias entre o céu e o mar”.
Alguns anos depois, em 1990, o navegador partiu para sua segunda grande jornada, a mais longa de todas, rumo à Antártica. Para essa, Klink construiu o Paratii, um barco projetado para ficar aprisionado propositalmente no gelo, e não quebrar.
O navegador alcançou novamente seu objetivo: ficou 13 meses no continente antártico, sete deles imobilizado na Baía Dorian e totalmente sozinho.
“Eu não fiquei entediado em nenhum momento. Na verdade, quase não tinha tempo. Desde conseguir água até preparar o alimento e fazer a manutenção do barco, tudo era mais difícil e demandava muito tempo”.
Quando o gelo derreteu, abrindo caminho para que pudesse voltar à Paraty – sua terra natal -, ele percebeu que o estoque de alimentos ainda permitia 22 semanas de incursão. Decidiu então que seguiria viagem, agora para o outro extremo do mundo, e foi conhecer o gelo ártico.
Após 642 dias e 50 mil quilômetros percorridos, o navegador retornava ao Brasil.
Suas aventuras seguiram, tanto em viagens solitárias, incursões tripuladas e, por fim, com sua esposa, a velejadora e fotógrafa Marina Bandeira e suas filhas: as gêmeas Tamara e Laura, e a caçula Marina Helena.
Atualmente, ele administra três piers flutuantes na cidade de Paraty, a Marina do Engenho, além de ser um dos palestrantes mais procurados do país.
A navegação se tornou a paixão da família Klink. Enquanto esse artigo é escrito, Tamara está cruzando as águas frias da Groenlândia com a mesma expectativa do pai: ficar presa no gelo.
A preocupação que os familiares e amigos de Amyr sentiam quando ele partia para suas viagens, ele sente agora com a filha.
A palestra completa do navegador e todos os conteúdos da agenda Caldeira estão disponíveis no APP para ver e rever. Se você é membro da comunidade Caldeira, baixe o app do Instituto Caldeira na Apple Store ou Play Store.
O potencial náutico de Porto Alegre
Após o painel, o navegador concedeu uma entrevista exclusiva para o time de conteúdo do Instituto Caldeira. Amyr Klink falou o que pensa sobre a nova geração e como Porto Alegre tem um potencial tremendo ainda não trabalhado.
“A minha geração foi muito estática, enquanto essa nova geração tem uma visão mais abrangente do mundo e exercitam melhor a atividade de compartilhar e trabalhar em cooperação, mas também é uma geração que quer cortar caminhos. Essa mistura de pressa e desprendimento é muito interessante”.
Segundo ele, a atividade náutica tem o poder de gerar riqueza e, de certa maneira, atuar como um órgão de fiscalização ambiental. “A oportunidade de Porto Alegre é gigantesca nesse sentido por uma questão: o Guaíba é um rio de água doce que dá acesso ao mar. A água doce inibe a proliferação das cracas (conchas que grudam no casco do barco), pois elas se desenvolvem mais na água salgada”.
Somado a isso, a capital gaúcha é uma metrópole com boa infraestrutura: aeroporto internacional, pólo metal mecânico e todos os tipos de serviços. “O potencial para Porto Alegre ser um hub de marinas é brutal”, acrescenta.
Amyr Klink também falou que a transformação urbana deve passar por um trabalho conjunto entre empresários, poder público e instituições de ensino. Então é muito importante uma estratégia que una esses atores para pensar o que Porto Alegre quer ser no futuro, explica.
Acredito que o Caldeira tem o poder de fazer essa integração para desenvolver a cidade através de um trabalho colaborativo.
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