Diversidade

“A ausência de diversidade é falha de design”, afirma Grazi Mendes, head de inclusão e diversidade américas, da Thoughtworks

Banrisul apresenta:

A ausência de diversidade não é natural, é falha de design”, apontou Grazi Mendes, head de inclusão e diversidade américas, da Thoughtworks. No painel sobre estratégia e diversidade, ela trouxe provocações potentes e necessárias para pensar não apenas o mundo do trabalho, mas também a forma como a sociedade se relaciona. 

Ambientes homogêneos, por design, limitam a criatividade, a inovação e a capacidade de atender a toda a sociedade. Grazi mostrou como a inclusão de diferentes perspectivas transforma produtos, serviços e processos: de produtos de beleza que consideram múltiplas tonalidades de pele a soluções urbanas que beneficiam todos os cidadãos.

A executiva lembra que a conversa sobre diversidade não é restrita a mulheres, pessoas negras, com deficiência ou a grupos historicamente sub-representados. É, antes de tudo, uma conversa que diz respeito a todos e todas. Porque falar de diversidade é falar de dinâmicas de poder.

Diversidade não é uma conversa só sobre diferenças, é uma conversa sobre dinâmicas de poder de quem pode, quem não pode, quem tem voz e quem não tem.

Um dos pontos centrais foi a ilustração prática de como funcionam os times homogêneos e os diversos. Em grupos muito semelhantes entre si, as ideias fluem rapidamente, há consenso imediato e uma sensação de segurança. Mas isso é, muitas vezes, um reflexo de “Narciso”, de falar com o espelho. Já nos times diversos, o processo é mais desafiador. Surgem divergências, questionamentos, pontos de vista que incomodam. 

“Times homogêneos entregam mais rápido, mas é nos times diversos que a gente aprende, que a gente desafia a nossa percepção e amplia perspectivas.”

Grazi trouxe também a dimensão do futuro do trabalho. Relatórios internacionais, como os do Fórum Econômico Mundial, indicam que milhões de postos de trabalho vão desaparecer, enquanto outros tantos vão surgir. 

O grande desafio é ter as habilidades exigidas nesse novo contexto: empatia, liderança, capacidade de influência, flexibilidade e, sobretudo, curiosidade. Segundo a painelista, é no ambiente mais diverso que temos a possibilidade de aprender, desenvolver curiosidade, ampliar perspectivas e criar soluções mais inovadoras.”

Outro ponto importante foi o chamado “paradigma do conforto”. Trabalhar com diversidade dá mais trabalho. Exige repensar linguagem, acessibilidade, processos e estruturas. Gera atritos, debates e ajustes. Mas é exatamente nesse espaço mais trabalhoso que mora a potência criativa e inovadora. 

Não basta “colocar pessoas diferentes na mesma sala”, é preciso criar ambientes seguros onde todos possam dizer quando uma ideia não é tão boa ou quando alguém se sente desrespeitado. 

Grazi também desconstrói a ideia de que diversidade é moda ou tendência. Ela lembra que o Brasil é o país mais diverso do mundo. “Esse caldeirão de diversidade é onde a gente deveria buscar potência, inovação e novas formas de enxergar o futuro”, observa. Porém, ela alerta que o País, muitas vezes, encontra-se na “página um” dessa conversa, debatendo questões básicas em vez de avançar para estruturas mais profundas de mudança. A diversidade já é um fato, o desafio é transformá-la em agenda estratégica.

A executiva trouxe exemplos de como pensar no futuro com responsabilidade e propósito. Citou Sebastião Salgado e sua esposa Léia, que receberam uma área degradada em Minas Gerais e escolheram restaurá-la, mesmo enfrentando perdas financeiras iniciais. 

A decisão de investir no longo prazo, com a visão de que “tudo que você toca precisa ficar mais bonito depois de você”, ilustra a importância de olhar além do presente imediato, seja na preservação ambiental, seja na criação de organizações mais inclusivas e sustentáveis.

Ela também falou sobre o conceito de espelho, autoestima e pertencimento. “Essas palavras são o tripé para que pessoas possam sonhar e ocupar espaços de liderança. Algumas pessoas tiveram espelho demais, se viram demais em todas as posições de poder. Nesse caso, precisamos quebrar um pouco esse espelho. Para alguns grupos, precisamos construir um espelho, um espelho de dignidade, que mostra que você pode ocupar uma posição de liderança sendo quem você é, com as suas características.”

Por fim, Grazi compartilhou com emoção seu diagnóstico de câncer de mama, lembrando que ninguém sabe o tempo que tem. Ela voltou à sua infância, quando, escondida debaixo da mesa, sonhava com um mundo onde oportunidades não fossem limitadas por raça, gênero ou condição social, um espaço em que pudesse sonhar, errar e se reconhecer plenamente. 

Aquela pequena Grazi, que aprendeu cedo a criar seus caminhos e tecnologias para acessar conhecimento e futuro, tornou-se a base de sua liderança hoje. Uma mulher negra,com a coragem de abrir espaços, de deixar legados e de garantir que tudo que toca, seja um projeto, uma pessoa ou uma organização, fique mais bonito e inclusivo. “Eu não sei quanto tempo tenho, mas vocês também não sabem que hora é a nossa hora”, concluiu.