Tudo sobre o Drex: Caldeira entrevista instituições participantes do piloto do real digital

O lançamento do Drex, a versão digital do real criado pelo Banco Central (BC), promete ser um divisor de águas em como as transações financeiras são realizadas em meio virtual. 

Em fase de testes, a moeda digital tem o mesmo valor da física e, em um futuro próximo, fará parte do cotidiano no Brasil. Isso vai reduzir significativa os custos no sistema bancário, pois reduz a emissão e transporte do papel moeda. O Drex também traz a possibilidade de criar contratos inteligentes com a segurança da tecnologia blockchain, que serão programavéis conforme a execução do negócio.

Mas você sabe como tudo isso vai funcionar?

O time de conteúdo entrevistou instituições financeiras fundadoras do Instituto Caldeira, selecionadas para projeto piloto do Drex, fase que segue até maio do próximo ano. Serão elas e os demais integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN) os intermediadores do ativo entre o BC e a população. Por isso, o momento é de aprendizado, mas também empolgação, relatam as fundadoras do hub de inovação

Créditos: Marcos Brehmes.

Márcio Port, presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, afirma que a iniciativa brasileira coloca o país na vanguarda e vai incentivar a inovação e a concorrência no ambiente virtual. “Além da digitalização da moeda, o BC prevê a tokenização de ativos, o que coloca o projeto brasileiro em uma posição de ainda mais destaque em termos de inovação”, diz Port.

Assim, torna possível que sejam negociadas versões tokenizadas de ativos como títulos públicos, ações, cotas de fundos; e até mesmo ativos reais como carros e imóveis com registros tokenizados. “A característica multiativos permite que representações virtuais (tokens) de diferentes ativos estejam presentes nesta rede”.

Atualmente, estima-se que existam 11 moedas digitais públicas – Central Bank Digital Currencies CBDCs) -de acordo com o Banco de Compensações Internacionais (BIS), mas em torno de 80 moedas do tipo estejam com projetos em andamento, como o Drex. 

No caso do real digital, as transações serão realizadas em uma plataforma de registro distribuído, que se assemelha a tecnologia blockchain, mas com mudanças conceituais. A principal delas é que blockchain tem como premissa ser um ambiente descentralizado, enquanto a Plataforma do Drex terá o Banco Central como único regulador.

“Não será uma moeda descentralizada como uma criptomoeda típica. O Drex, por si só, tem o potencial de modificar o modo como os brasileiros lidam com o dinheiro e como o Brasil participa da economia mundial, pois une dois aspectos importantes: a estabilidade do real e a tecnologia blockchain”, salienta Haroldo Stumpf, CEO do Banco Topázio

Créditos: Banco Topázio.

Em resumo, o que é o Drex?

É o real, a moeda brasileira oficial, em formato digital;

Tem o mesmo valor e a mesma aceitação que o real tradicional;

Regulado pelo Banco Central e emitido somente em sua plataforma;

Tem as mesmas garantias e segurança do real tradicional;

Depende de um banco ou de outra instituição para seu uso pelo cidadão.

Sistema financeiro será intermediador do real digital

O Drex será acessado diretamente apenas pelas instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O uso do público geral se dará por meio de carteiras digitais nas instituições financeiras, de forma similar a uma conta corrente. O começo dessa próxima fase ainda não está previsto. 

Inicialmente, o Drex vai ser utilizado nas transações interbancárias (entre bancos, no atacado) e dará suporte ao chamado real tokenizado, que será a versão para o varejo. Ou seja, o real tokenizado será um novo meio de pagamento de serviços financeiros de varejo que serão liquidados por meio de tokens emitidos por instituições financeiras, com a mesma segurança e estabilidade da moeda soberana brasileira. 

Também estão previstos testes para a tokenização de um título de crédito de emissão privada com garantias em Títulos Públicos Federais tokenizados, simulando a integração com o Sistema de Liquidação de Custódia e a liquidação em CBDC e/ou real tokenizado, acrescenta Marcelo Oliveira, diretor de tecnologia do Agibank.

“Assim como a internet deu origem a inovações que jamais poderíamos ter imaginado em seu início, a expectativa é que o Drex pavimente o caminho para soluções financeiras revolucionárias, conceitos de negócios inéditos e modelos de interação econômica que ainda nem conseguimos conceber. De fato, ele simboliza o futuro da economia digital brasileira”, destaca Oliveira.

Na prática:

  • O Banco Central será o único emissor do Drex e os únicos aptos a receber serão os bancos e demais instituições financeiras. Uma instituição que tenha R$ 1 mil, pode transferir para a carteira do BC e receber de volta R$ 1 mil em CBDC.

  • Se a instituição quiser de volta o dinheiro, envia de volta os CDBCs, que são queimados pelo BC. A queima de tokens é uma prática bem comum no mercado de criptoativos.

O fim do papel moeda?

Para Irany Sant’Anna Junior Drex trará mais economia nas operações financeiras. Créditos: Banrisul.

A chegada do Drex, assim como a popularização do Pix, não vai acabar por completo com o real tradicional, mas tende sim a reduzir consideravelmente seu uso e emissão. Esse é inclusive um dos objetivos do real digital e a avaliação geral do sistema financeiro é isso será extremamente positivo, pois irá reduzir custos. 

Um dos processos mais caros e que requer um grande planejamento em segurança é a disponibilização de numerário, explica Irany Sant’Anna Junior, conselheiro de administração do Banrisul.

“Fornecer caixa eletrônicos, recarregá-los e realizar o transporte de valores demanda uma logística custosa e complexa. A partir do Drex, o volume do real físico irá diminuir, o que trará mais rastreabilidade para as transações”, explica.

O executivo do Sicredi, Márcio Port, também acredita que o novo ativo tem várias vantagens em relação ao dinheiro físico e outros meios de pagamento eletrônico, como segurança, eficiência e transparência nas transações financeiras. 

“Ele pode ajudar a reduzir custos com transações financeiras, democratizando os serviços financeiros, favorecendo a inclusão financeira no país”, diz Port. 

Contratos inteligentes e uma nova gama de possibilidades

O Drex vai permitir que vários tipos de transações financeiras seguras com ativos digitais e contratos inteligentes estejam à sua disposição. Esses serviços financeiros inteligentes serão liquidados pelos bancos dentro da Plataforma Drex.

“A moeda digital não é apenas uma oportunidade presente, mas um convite para co-criar e liderar a descoberta de um futuro financeiro repleto de possibilidades inovadoras”, diz Marcelo Oliveira, diretor de Tecnologia do Agibank.

Oliveira acredita que Drex permitirá co-criar novos produtos. Créditos: Agibank

Com contratos inteligentes, por exemplo, transações são concluídas de forma automática quando as condições preestabelecidas acontecerem, trazendo segurança para todas as partes envolvidas no negócio por meio da liquidação atômica.

Por exemplo, no caso de compra de um imóvel, o contrato inteligente permitirá que a transferência da escritura do imóvel para o comprador, e a transferência do valor em Drex para o vendedor, aconteçam no mesmo instante, de forma atômica. Tudo isso ocorrerá na Plataforma Drex, acessada pelo vendedor e pelo comprador por meio de seus bancos. 

A expectativa é que o Drex incentive ainda mais a inclusão da população em serviços financeiros mais digitalizados – como aconteceu com o Pix – democratizando o acesso em um setor até então restrito aos entusiastas do mercado dos tokens.

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