RS e um ecossistema mais vibrante por Frederico Renner

O Instituto Caldeira é uma das respostas mais assertivas ao recorrente questionamento sobre o potencial do RS e sua capacidade de recuperação do protagonismo que já teve no cenário econômico do país.

Frederico Renner faz parte do grupo de idealizadores do Instituto e tem sido um dos seus articuladores mais atuantes. Aliás, ele defende há muito tempo o fomento de um ecossistema de inovação em nosso estado.

Nesta entrevista, ele fala sobre a iniciativa e os impactos que pode produzir na transformação do ambiente de negócios do RS.

Na sua opinião, o que é essencial para que o Instituto Caldeira atue de forma vibrante e realize a sua missão?

A força de um ecossistema está nas suas conexões e na diversidade. Para atrairmos todos os integrantes do ecossistema de inovação e gerarmos estas conexões é imprescindível que tenhamos um ambiente de negócios virtuoso, uma plataforma que gere integração, de forma que nasça cooperação entre os diferentes agentes.

Para isso, uma boa gestão de comunidade é fundamental para garantir que estas conexões ocorram e possibilitem a troca, o aprendizado e a geração de oportunidades de negócios entre todos.

Um ecossistema vibrante precisa ter diversidade, ou seja, garantir com que todos os seus elementos estejam representados e possam atuar juntos com maior força.

É o poder da hélice que tanto se fala, onde iniciativa privada, governo, universidades e sociedade civil se entrelaçam gerando uma máquina potente de criação de valor e um ambiente de fomento ao empreendedorismo e ao desenvolvimento humano.

Ao mesmo tempo, são fundamentais as políticas de incentivo para a atração das startups, que são as grandes protagonistas deste ecossistema. Programas de conexão com as grandes empresas e também com os veículos de venture capital, investidores anjo e aceleradoras são fundamentais. Eles são a “gasolina” necessária para proverem energia para o crescimento exponencial que se espera destas empresas.

Outro agente fundamental são as empresas consolidadas (no caso do Caldeira, os fundadores do Instituto) que buscam neste tipo de ambiente uma forma de desenvolverem seus programas de inovação aberta mas, mais do que isso, uma forma de beberem do mindset da nova economia, que é o grande driver de transformação da cultura organizacional.

Sabemos que entre nós, gaúchos, há aqueles que acreditam que o Estado perdeu o “timing” e que dificilmente conseguirá reconstruir seu protagonismo na perspectiva da inovação. O que faz você pensar exatamente o contrário? Por que você acredita no RS?

Acredito que o RS esteve “adormecido” por muito tempo, mas percebo que estamos despertando com bastante força deste “sono” prolongado.

O RS parece ter entendido que o caminho para o desenvolvimento passa pela inovação e que isto deve estar enraizado na estratégia das empresas e das políticas de Estado. Prova disso são os diversos movimentos que surgem no Estado, como o Pacto Alegre, o Instituto Caldeira e o Hélice, na Serra gaúcha, somente para citar alguns.

Fui criado numa família empreendedora que sempre desenvolveu seus negócios aqui e tenho a convicção de que podemos voltar a ser um Estado empreendedor e inovador.

O que estamos realizando através do Instituto Caldeira, onde já iniciamos um movimento com uma força e um apoio incrível das principais empresas do Estado, é algo inédito em todo o país.

Um dos drivers que me levaram a dedicar-me ao projeto do Caldeira foi justamente o fato de ver a evasão de talentos da nossa cidade, tendo que ir buscar oportunidades fora daqui. O gaúcho está muito negativo, é uma onda de notícias ruins que atrapalha o nosso Estado e bloqueia novas ideias de desenvolvimento. Precisamos de uma injeção deste novo mindset positivo e isso pode ocorrer se trouxermos uma nova matriz de valor para a cidade.

Temos uma chance de fazermos isso agora com iniciativas como a do Caldeira, através da força das lideranças que ainda estão aqui e que, assim como eu, acreditam que possamos ter um futuro melhor para o RS.

Fala-se muito em Transformação Digital e na urgência do tema para todas as nossas empresas. Qual sua visão sobre o assunto? Qual o primeiro passo para quem busca iniciar nesta jornada?

Acredito que o tema da transformação digital já esteja, de certa forma, até defasado.

A digitalização dos negócios é pré-requisito, atualmente, para a sua existência. A pandemia veio para demonstrar isso e a tecnologia mais acessível ajudou nesta aceleração.

No entanto, a transformação, quando se fala em inovação, é algo muito mais profundo e vai além da transformação digital. Ela passa pelo que chamamos do desenvolvimento do conceito de capacidades dinâmicas e pela criação de novas competências organizacionais.

A inovação precisa ser desenvolvida de forma transversal dentro das empresas, passando inicialmente por um alinhamento da estratégia da empresa à estratégia de inovação.

Aqui, é importante uma avaliação dos horizontes de inovação, onde é importante priorizarmos as iniciativas, dando pesos distintos a cada um dos três horizontes: o incremental, o adjacente e transformacional.

O tema pessoas passa a ser o próximo estágio, onde é preciso avaliar e entender se o capital humano existente está alinhado às expectativas desta estratégia de inovação. Por trás disso tudo, desenvolver uma cultura que fomente e dê espaço à inovação, incentivando a agilidade, a abertura, a autonomia e o foco outside in, centrado no cliente. Para que esta transformação na cultura ocorra de forma efetiva, ela precisa estar ancorada nos comportamentos da alta liderança, que se manifestam não pelo que é dito mas pela suas atitudes.

Por último, a parte que mais se vê quando se fala em inovação, os processos. Aqui, entram conhecidas ferramentas como, por exemplo, hackathons, programas de ideação, jams, design thinking e programas de conexão com startups. Trabalhando estes três pilares: estratégia, cultura e processos é a forma mais completa de criar um ambiente apto ao mundo em que vivemos, onde imperam a volatilidade e a incerteza e onde os negócios precisam ser flexíveis e criativos para perpetuarem.

Qual o papel do Instituto Caldeira na transformação digital do Estado e de nossas organizações?

O Instituto Caldeira é um grande catalisador deste movimento de aceleração das conexões dentro do ecossistema.

Através da sua força e das lideranças envolvidas tem o potencial para ser um grande expoente e criar um hub de inovação a nível global dentro do nosso Estado. Isto favorecerá as nossas organizações mas também a comunidade como um todo.

Temos a condição de criar um novo distrito, transformando uma região inteira da cidade em algo inovador e atrativo.

Algo que já vimos acontecer em Barcelona, com o distrito 22@, no Brooklin, com o New Lab, em Portugal, com o LX Factory e em Washington através do Metro Hub. Estes projetos mudaram a história destas cidades gerando uma matriz cultural e de empreendedorismo e um ecossistema que desenvolveu-se em volta disso.

O Caldeira será o centro energético deste movimento, com uma bandeira de inovação e empreendedorismo mas sendo também o expoente da mudança, da criatividade e do fomento a um ambiente melhor de negócios. Ele pode ser um legado para deixarmos uma cidade melhor para nossos filhos e uma capital protagonista no desenvolvimento de tecnologia, empreendedorismo e capital humano a nível mundial.