Queda de aportes no 1º tri faz startups brasileiras buscarem novas formas de captação

As startups brasileiras precisam trilhar caminhos menos ortodoxos para seguir captando recursos e crescer em receita, já que a principal fonte de investimentos desses negócios, o venture capital, caiu substancialmente no 1º trimestre de 2023. Com a consolidação dos dados de março, mês marcado pela falência do Silicon Valley Bank, o trimestre chegou ao fim com uma queda de 86% em novos aportes em companhias brasileiras na comparação com o mesmo período de 2022. 

Essa fuga do capital de risco do mercado brasileiro mais uma vez fica evidenciada na recente edição do Inside Venture Capital Report, relatório do Distrito que monitora a atuação dos fundos de investimento em startups no Brasil. 

Mesmo assim, as empresas estão se mostrando criativas em meio a um cenário de bear market para o venture capital, aponta Gustavo Gierun, CEO do Distrito.

Conforme Gierun, apesar do cenário de crise acentuada, o levantamento indica que o mercado tem buscado novos meios de captação.“Os dados agora mostram mais founders incrementando seus caixas com operações de dívida e com estruturação de M&A. Essa tendência já aparecia no fim de 2022 e continuou em expansão neste trimestre. São números que acabam mostrando a resiliência das startups em um momento de instabilidade de mercado que muitas delas não haviam vivenciado”, diz.

Esse movimento tem pontos positivos e negativos para o mercado, aponta o executivo. Entre os benefícios para quem busca financiamento via dívida estão a ampliação dos fluxos de caixa sem diluição, manutenção do controle da companhia, além de evitar um possível down-round (quando as empresas levantam dinheiro com uma avaliação mais baixa do que as rodadas anteriores). Por outro lado, levantar capital por este meio também exige dos founders uma maior diligência financeira, fora as obrigações de pagar o montante principal do empréstimo em um período de tempo específico.

Retratos de um trimestre 

O levantamento apontou que foram realizadas 91 rodadas neste ano, o que movimentou o mercado com uma injeção de US$ 247,02 milhões. No mesmo trimestre do ano passado, o setor contabilizou 306 rodadas e US$ 1,7 bilhão em investimentos.

Evolução de Número e Volume de Investimento em VC (US$)

Na comparação setorial, destacam-se mais uma vez as FinTechs, que receberam o maior volume de recursos (aproximadamente US$ 62 milhões) e o maior número de rodadas, 20. O setor de RetailTech foi o segundo em número de rodadas, com 11 aportes, mas o terceiro em volume de captação, com US$ 15,2 milhões. Em quinto lugar em número de rounds, as HealthTechs ficaram atrás apenas das RetailTechs em volume de captação, com US$ 17,5 milhões em 6 aportes no setor.

O Inside Venture Capital Report aponta que nos três primeiros meses de 2023 as transações de dívida já tinham registrado uma alta de 14% a mais em número de transações na comparação com o período equivalente de 2022 (8 no 1T23 vs 7 no 1T22). Em relação ao último trimestre de 2022, o percentual também cresceu: foram 8 no 1T23 vs 5 no 4T22, uma alta de 60%.Agora, entre janeiro e março deste ano, o levantamento mostra que este mesmo número cresceu 23% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, com deals que somam US$ 317 milhões.

Evolução de Número e Volume de Investimento em Dívida (US$)

Estágios de Investimento

Já na variação entre os estágios de investimentos, o seed-stage registrou queda de 74,2% no contraste com 2022 e baixa de 19,91% em relação ao mesmo período de 2021. No early-stage, o volume de capital investido em startups apresentou variação negativa de 92,6% em relação ao ano passado e redução de 84,16% no confronto com os números de aportes do primeiro trimestre de 2021. 

As rodadas voltadas para empresas mais maduras tiveram uma redução expressiva no primeiro trimestre de 2023. De acordo com os dados divulgados, o late-stage captou 99,8% a menos que no mesmo período de 2022 e 99,54% a menos que em 2021. 

Enquanto isso, o ticket médio em investimentos de capital semente apresentou estabilidade na comparação ao primeiro trimestre de 2022. Já nas rodadas de investimento na série A, o ticket médio teve uma queda substancial de cerca de 61,93%, enquanto na série B a queda foi de 51,37%.

M&A

O levantamento apontou que os três primeiros meses de 2023 registraram, ao todo, 32 operações de M&A. O dado indica que entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023 houve uma diminuição de 55% no volume de fusões e aquisições, mas o histórico da pesquisa destaca que o 1T2022 registrou o maior número de operações de M&A, 72 ao todo, desde que o levantamento começou a ser feito – um número bem acima da média dos outros trimestres. 

Neste trimestre, as startups tiveram maior representatividade no número de aquisições feitas, com 17 transações, o que compreende 53,1% do total de M&As. Os M&A’s de empresas tradicionais e de corporações contabilizaram 34,4% e os investidores institucionais completaram o perfil de compradores com 12,5%. Já na avaliação setorial, as martechs representam o setor de startups que mais foi adquirido, com 4 M&As, seguido por HealthTech, com 5.

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