Precisamos demitir o ego todo dia de manhã, sugere André Street, fundador do Stone
É difícil olhar para a juventude de André Street e cravar que ele já tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Aos 37, é fundador de duas fintechs de pagamento que estão batendo de frente com as instituições tradicionais: a Stone, democratizadora das maquininhas de crédito no Brasil, e a SaltPay, que exporta esse know how para outros 40 países.
Mas a jornada de Street, que começou aos 14 anos, foi cheia de desafios. Afinal, romper com status quo do antigo duopólio de pagamentos em cartão estava longe de ser uma tarefa fácil! E, de fato, não foi. Para contar um pouco dessa história, o empreendedor participou da nova temporada do Caldeira Sessions, evento promovido pelo Instituto Caldeira.
A disrupção do sistema bancário, a criação de negócios que de fato impactem na sociedade e o olhar totalmente diferenciado ao cliente são assuntos sempre presentes no pitch do executivo. Além da busca constante pela humildade empresarial. “Digo para minha equipe demitir o ego todo dia de manhã. Grandes mudanças se constroem em coletivo. Não existe um salvador da pátria”. Para divulgar o evento do Instituto Caldeira, por exemplo, ele precisava enviar uma foto sua, mas mandou uma com a equipe completa. O mesmo aconteceu para essa matéria. “Somos a soma de muitas cabeças”, aponta.
Impacto social
Embora a Stone Co tenha estreado na bolsa americana Nasdaq em 2018, que reúne as principais empresas de tecnologia do mundo, como Google e Facebook, e Street já acumule um patrimônio de mais de R$ 5 bilhões, o executivo afirma que a busca pelo impacto social deve ser sempre maior do que o impacto financeiro.
Para engajar a equipe, nós precisamos que ela se espelhe na busca por sonhos grandiosos, e nada é mais grandioso do que mudar a vida em sociedade positivamente. Eu prefiro ideais que reflitam os problemas reais e que pensem do zero a jornada do cliente”, destaca.
E como mudar a sociedade pode parecer uma meta quase inalcançável, os clientes acabam se tornando a persona que representa toda essa vontade de mudar o mundo, usando a tecnologia como facilitadora das relações.
“Uma empresa precisa servir primeiro ao cliente, depois a sua equipe e, consequentemente, o acionista vai ser beneficiado. Mas o cliente sempre deve estar em primeiro lugar. É quase uma função social. Você tem que mudar o mercado para que isso seja bom para sociedade”, afirmou Street durante o Caldeira Sessions.
Essa ode ao cliente levou a Stone a proporcionar crédito mais justo e soluções de banking mais integradas e democráticas. Hoje é possível fazer transferências e se conectar com os todos os bancos de forma com taxas muito menores, o que ajuda os lojistas do País a aceitarem crédito de forma muito mais barata e com melhor serviço.
Há poucos anos atrás, apenas duas grandes bandeiras dominavam o mercado e a falta de concorrência deixava comerciantes praticamente reféns das taxas e encargos desses players. No caso da Stone, a maior fatia de seus clientes são pequenos e médios lojistas. “É a vida deles que queremos facilitar. Podemos fazer melhor? Sem dúvidas. E vamos fazer”, projeta.
Desafiando os bancões
O CEO do Banco Topázio, Haroldo Stumpf, dividiu tela com André Street no encontro virtual promovido pelo Instituto Caldeira. Ambos fazem parte da mesma maré de disrupção no sistema bancário e a pergunta de Stumpf para Street acabou abortando justamente este tema. Ele quis saber como uma empresa que não veio do sistema financeiro, como a Stone, acabou desafiando o status quo dos bancos tradicionais e a hegemonia das bandeiras Visa e Mastercard.
A democratização do pagamento por máquinas de cartão de crédito teve que driblar legislações que barravam a entrada de novos players. Mas enquanto a lei não mudava, era preciso seguir as regras daquele jogo”, relembra Street.
Por muito tempo, a regulamentação dizia que apenas bancos podiam ir aos escritórios de Visa e Mastercard no Brasil, o que impedia que fintechs fora do sistema entrarem de fato nesse mercado. “Por isso, a gente se associou a um banco relativamente pequeno, que foi o patrocinador da licença que nos permitiu sentar com esses players. A gente também trouxe um sócio americano que havia sido presidente de uma das grandes bandeiras e que nos trouxe mais da visão interna que elas tinham sobre sistema financeiro no Brasil”, destaca o empreendedor.
O executivo ressalta que não via cabimento naquela regra, mas que era preciso fazer a ponte mesmo assim. Com a Lei dos Pagamentos Móveis, aprovada em 2013, empresas como Stone ganharam terreno fértil. E as maquininhas de cartão chegaram às mãos de lojistas, ambulantes e muitos outros tipos de empreendedores.
Aposta no novo
Um dos bastiões do varejo brasileiro, o empresário José Galló, presidente do conselho de administração da Lojas Renner, enfatizou a presença de talentos jovens em postos de liderança da Stone e quis saber o que leva o empreendedor a acreditar tanto no potencial da juventude.
“Nossa empatia com as pessoas jovens é porque a gente pensa que elas podem ser melhores que a geração anterior. Não num contexto competitivo, mas como uma espécie de evolução”, respondeu. Street citou a cultura da empresa para atração de novos talentos e o programa de recrutas da Stone. “São milhares de jovens querendo trabalhar conosco. Isso é um KPI que gosto muito de ter e que me deixa mega entusiasmado”, comenta. Para ele, os ganhos pessoais não são capazes de engajar em longo prazo. É preciso de um sonho grande como norteador da equipe. “Se for pelo objetivo financeiro a coisa esmorece. Tem que ter impacto social. A equipe tem que saber que está fazendo a diferença na sociedade”, enfatiza. Ele elenca três características fundamentais para trabalhar na Stone: inteligência, energia e integridade. “Nossa alegria é quando encontramos pessoas melhores com a gente”.
Internacionalização
O CEO e fundador da startup Todo Cartões, João Espindola, também participou do Caldeira Session e quis saber mais sobre a Salt Pay, a nova empresa de André e seus sócios (Eduardo Pontes, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira), que de certa forma replica o modelo da Stone na Europa, também no mercado de adquirência e meios de pagamento.
O Grupo já tem 11 escritórios na Europa e adquiriu recentemente a islandesa Borgun, por 27 milhões de euros, para facilitar a operação em um novo mercado e com novos perfis de lojistas. “Comprar algumas empresas estratégicas nos fez ganhar velocidade de execução. Com os fundadores das empresas compradas tocando o negócio, pois acreditamos que eles são melhores para a atividade. Isso é economia de tempo”, disse Street.
Educação
Street, que largou a faculdade de direito no meio e alega nunca ter se adaptado ao modelo formal de ensino, entende que a educação precisa estimular novas áreas de interesse. “É preciso habilitar os jovens ao hábito da leitura e da concentração, além do interesse em algum tema. Tentar entender o interesse do sujeito desde a infância e fazer com que o jovem diga o que ele quer”, sugere.
O executivo citou o sistema norte-americano de ensino, em que os jovens escolhem suas áreas de interesse. Outro ponto é a busca por uma visão patriótica no ensino brasileiro. “Acredito que nós temos que educar nossos jovens em relação ao nosso País e fazer com eles sintam orgulho de crescer aqui”, finaliza.
Quem é a Stone?
A Stone é uma fintech brasileira direcionada aos meios de pagamentos, através dos seus serviços de adquirência multibandeiras por intermédio de máquinas de cartões, processamento de transações realizadas por cartões de crédito, débito e voucher. Com atuação desde em todo território brasileira, a empresa abriu seu capital em 2018 e entrou para uma das principais bolsas mundiais, a Nasdaq. A Stone é parte integrante da holding Stone Co., que possui outras empresas do ecossistema de pagamentos no Brasil.