Para Celso Athayde, favelas são verdadeiras incubadoras de projetos

Para quem ainda vê as periferias como espaços em que tudo falta, aqui vai um convite para exercitar um novo olhar. “Não aceito que tratem esses lugares como carentes. São territórios onde sobra criatividade, empreendedorismo e inovação com um potencial enorme”, destaca Celso Athayde, fundador da Central Única de Favelas (CUFA) e CEO da Favela Holding.

Um dos speakers mais aguardados desta quarta-feira (29), Athayde antecipou alguns pontos do seu painel para o Instituto Caldeira antes de subir ao palco e falar para uma plateia plural, que lotou um dos auditórios do South Summit Brazil 2023. O evento acontece até sexta-feira, no Cais Mauá, em Porto Alegre (RS).

Vivemos um importante momento de inflexão. Ou compartilhamos com as favelas a riqueza de mais de R$ 200 bilhões por ano produzidos por elas no Brasil, ou vamos continuar dividindo apenas as consequências da miséria que a elite sempre produziu

Hoje, as periferias das cidades brasileiras reúnem cerca de 18 milhões de pessoas que, juntas, formariam o terceiro maior estado do Brasil em número de habitantes e em potencial econômico. É gente que produz e movimento a economia, empreende e cresce. “Que empresa não gostaria de expandir sua operação a um mercado desse tamanho?”, provoca o criador da única holding de favela no mundo e eleito empreendedor do ano em 2022 pelo Fórum Econômico Mundial de Davos.

Nosso papel é informar e fomentar o empreendedorismo como forma de combater as desigualdades

Para dar mais visibilidade e fomentar esse ecossistema, a Favela Holding criou, em 2022, a Expofavela, evento que reuniu 33 mil pessoas e 20 mil startups de todo Brasil em sua primeira edição. Em 2023, a expectativa é superar o número de participantes e atrair mais investidores. “Queremos mostrar iniciativas e pessoas que fazem o mesmo que o ‘asfalto’ faz desde que recebem oportunidades. Muitas vezes tem uma startup na favela que nem percebe que é uma startup. Nosso papel é informar e fomentar o empreendedorismo como forma de combater as desigualdades”, salienta.

Formação e informação para inserir jovens na tecnologia

Estimativas apontam que 37% das profissões dos próximos 20 anos ainda nem existem. Acompanhar as mudanças no mundo do trabalho e as novas tecnologias é fundamental para todos, mas se torna um desafio ainda maior para os jovens de baixa renda. Por isso, de acordo com Celso Athayde, iniciativas capazes de aproximar as novas gerações ao mercado de tecnologia são fundamentais.

“Quando você fala na favela sobre tecnologia, o que se imagina é a Nasa ou alguém indo pra lua, como se fosse algo muito distante. Teríamos um grande percentual dos próprios jovens que fazem jogos eletrônicos que podiam estar programando. O que falta é informação mais sólida e formação”, alerta.

No bate papo com Celso Athayde, o Instituto Caldeira apresentou o projeto Geração Caldeira de formação de jovens realizado em Porto Alegre.