O que a nova economia pode aprender com as cooperativas de crédito

O que a nova economia pode aprender com as cooperativas de crédito

Se tem um modelo de negócios que deu certo no Rio Grande do Sul, é o cooperativismo. Com direcionadores como o trabalho em comunidade e a criação de ecossistemas e associações, esse perfil de operação tem crescido muito, basta olhar a força que as empresas que atuam com esse propósito alcançaram no mercado. Isso te lembra algo? Sim, os hubs de inovação e o cooperativismo têm muito em comum.

Para aprofundar esse tema, reunimos o presidente do Sicredi, João Tavares, e o diretor presidente do SICOOB, Marco Aurélio lmada. Eles foram as atrações da edição de outubro do Caldeira Sessions. Inovação, tecnologia e, claro, o trabalho das cooperativas de crédito pautaram a roda de conversa, comandada por Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira.

Atualmente, o cooperativismo brasileiro conta com 5.314 cooperativas e 15,5 milhões de cooperados, segundo dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2020.

Instituições como Sicredi e o SICOOB nasceram e encorparam solucionando as dores das pequenas cidades do interior, desamparadas pelos bancões, e também fomentando a produção rural. Depois, encontraram o caminho dos grandes centros urbanos e agora, enquanto o mercado financeiro tradicional cresce cerca 17% ao ano, as cooperativas de crédito crescem 31%.

Nos municípios em que existem cooperativas de crédito, o Produto Interno Bruto (PIB) é, em média, 5,6% maior de onde elas não estão, sem falar que a geração de emprego também é superior”, explica o presidente do Sicredi, João Tavares.

Mesmo assim, é preciso oxigenar o modelo de negócios das cooperativas, segundo o diretor presidente do SICOOB, Marco Aurélio Almada, o que só é possível com um olhar voltado à Nova Economia.

Nosso desafio é rejuvenescer o nosso modelo de negócios, com forte adesão de tecnologias. E elas precisam resolver três problemas centrais: reduzir atritos de relacionamento com o cooperado, melhorar a experiência do usuário e captar oportunidades de otimização para o nosso modelo de negócio, que precisa ficar mais leve”, diz Almada.

Por isso, o setor tem buscado cada vez mais a aproximação com as startups. Nesse contexto, o Sicredi entrou no ranking das 100 empresas mais abertas ao ecossistema de startups, segundo o Brasil no Ranking 100 Open Startups 2020. “Para nós inovação é pensar diferente”, explica Tavares.

O programa da companhia voltado à essa aproximação, o Inovar Juntos, já gerou mais de R$ 120 milhões em oportunidades de negócio para a instituição e agora busca uma abordagem ainda mais conectada com a estratégia de digitalização da empresa.

Porta de entrada para as fintechs

O terreno fértil para as empresas de tecnologia voltadas ao mercado financeiro tem germinado diversas soluções disruptivas, que buscam quebrar o status quo dos serviços oferecidos pelos bancos tradicionais. Porém, quem preparou o solo para as fintechs foram as cooperativas de crédito, explica o diretor presidente do SICOOB, Marco Aurélio Almada.

Antes das cooperativas, nós tínhamos um problema ainda maior de concentração bancária e era preciso aumentar a concorrência para reduzir o spread bancário. Eu sou otimista com o cooperativismo porque nós abrimos a picada para as fintechs”, diz.

Para Almada, a principal contribuição foi no modelo gradual de governança. Como em uma cooperativa todo associado é dono de parte da empresa, o modelo societário é formado por um conselho de administração com milhares de membros, e por isso foi preciso ser criada uma maneira eficiente de gestão.

“Conquistamos lá atrás, junto ao Banco Central, a divisão do marco regulatório por fases. A primeira fase tem pouquíssima exigência de governança e vai escalando até a última. A possibilidade de moldar a governança por etapas foi o mote para o crescimento do cooperativismo, mas agora também contribui para o desenvolvimento das fintechs”, esclarece Almada.

Atuando em cima das dores

Outro ponto de convergência entre o cooperativismo e as empresas que usam a tecnologia para resolver os problemas financeiros da sociedade está, justamente, no objetivo de buscar soluções que até então não eram ofertadas.

Para o presidente do Sicredi, João Tavares, o cooperativismo surge quando há uma forte necessidade para resolver determinadas dores. No caso das de crédito, elas absorveram a falta de atendimento bancário aos municípios pequenos, às micro e pequenas empresas e ao produtor rural.

A gente cresce onde há dores não sanadas”, sintetiza Tavares.

Segundo o presidente do Sicredi, esse objetivo primordial de ser um agente que incide sobre problemas até então incrustados na sociedade é o que aproxima as cooperativas das fintechs.

O Sicredi é formado por 108 cooperativas, que atendem cerca de 5 milhões de associados. Já o SICOOB (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil) é composto por 360 cooperativas e 5,3 milhões de cooperados.