O mercado brasileiro é um grande otimista da IA generativa, mas será que o momento é de investir nela?

A inteligência artificial (IA) generativa não é só um hype. Ela vai transformar definitivamente a lógica corporativa e a rotina de trabalho com um tsunami de automações. Este foi consenso em diversos paineis sobre o tema no South Summit Brazil 2024. A questão que fica é: como o mercado brasileiro está lidando com essa tecnologia exponencial e altamente disruptiva? 

O país desponta entre os mais otimistas sobre o uso da IA no local de trabalho,  apontam estudos globais recentes, conduzidos por empresas como Getty Images e Thoughtworks. Na visão de André Miceli, editor-chefe da MIT Technology Review Brasil, o Brasil se mostra totalmente aberto às novas tecnologias, embora a propensão ao uso nem sempre se reflita em uso otimizado dessas ferramentas. 

“Essa propensão ao uso nem sempre se reflete no uso otimizado. Nós, enquanto mercado, compramos muita tecnologia de fora, estamos sempre abertos a testá-las, mas podemos encontrar caminhos melhores para adoção dessas inovações.”

No lado dos consumidores, a pesquisa da Thoughtworks indica que 67% dos entrevistados brasileiros demonstraram estar inclinados a comprar de empresas que implementam Inteligência Artificial generativa em seus processos, desde que sejam transparentes com uso de dados.

Esse hype em cima da tecnologia tem provocado empresas a monitorar e a aderir à IA generativa de forma massiva, mesmo que em alguns casos ela não tenha ligação com o core dessas organizações, explica Milena Oliveira, sócia e co-founder da Volpe Capital.

Milena entende que antes da adoção de uma tecnologia tão cara e complexa, é necessário que as empresas façam um diagnóstico minucioso sobre como a IA vai impactar na escalabilidade do produto, na redução de custos ou na experiência do cliente. 

“A segunda etapa, depois de compreender se a IA terá papel significativo no futuro da companhia, é projetar como priorizá-la no orçamento deste ano. Mas dependerá da fase de diagnóstico”, explica a gestora.

De acordo com Milena, empresas que não têm core tecnológico devem ser mais moderadas frente à aquisição de serviços de IA. “Se você não tem IA como core do seu produto, não trate isso com urgência. Os empreendedores precisam estar antenados sobre o assunto e monitorando o cenário para que o avanço tecnológico não atrapalhe o negócio e venha otimizar seu custo no futuro”.

Enquanto há um entusiasmo por parte das empresas em adquirir serviços baseados em IA de fora do país, o que em grande parte dos casos acelera a produtividade das companhias, o desenvolvimento interno desses modelos complexos de linguagem ainda patina, segundo Miceli.

“Por termos uma estrutura de curto prazismo e de resultados financeiros trimestrais, arriscamos pouco na área de desenvolvimento. Por arriscar pouco, ainda não produzimos inteligências artificiais que causam grande impacto social como as estrangeiras”.

O editor-chefe da MIT Technology Review Brasil relaciona isso à dificuldade de construção de hardwares nacionais. “Nosso modelo de inovação é muito pautado em trazer tecnologias que estão dando certo fora do Brasil e construir softwares a partir delas”.

O consenso entre os dois especialistas ouvidos com exclusividade pelo Instituto Caldeira durante o South Summit Brazil 2024 é que a IA generativa não se trata de um hype, mas de uma tecnologia com um poder transformador em todas as indústrias.

Ela cobra novas competências profissionais, como a engenharia de prompt, resiliência humana, destreza em soft skills e um novo olhar para produtividade. Por outro, são modelos ainda em desenvolvimento e que ainda não atingiram todo seu potencial. 

Para algumas companhias, sair na frente vai significar a liderança de um mercado em ascensão num futuro próximo. Para outras, investir agora em IA será um grande desperdício de recursos. Tudo depende da fase de diagnóstico.

Confira a cobertura completa do South Summit Brazil 2024 no blog do Instituto Caldeira.