Marcopolo lança 1º micro-ônibus autônomo da América do Sul, em parceria com startup brasileira

A gaúcha Marcopolo, maior encarroçadora da América Latina e terceira maior do planeta, lançou neste ano o primeiro protótipo de micro-ônibus autônomo da América do Sul, um Volare Attack 8 com nível 4 de automação, que roda sem motorista. Desenvolvido através da Marcopolo Next, área responsável pela aceleração de projetos de inovação da empresa, em parceria com a Lume Robotics, startup brasileira de mobilidade autônoma, o veículo levou dois anos para ficar pronto e tem sido usado em testes no Centro Tecnológico da Randon, em Farroupilha (RS). 

A tecnologia pode ser programada para operar na faixa ideal de eficiência, o que permite uma redução no consumo de combustível e na emissão de poluentes, com alto nível de segurança e conforto. Além disso, os dispositivos que fazem o carro rodar sem motorista são majoritariamente nacionais.

Esse feito recente mostra a pujança do ecossistema gaúcho de inovação e o poder das conexões para grandes projetos de tecnologia. A Marcopolo é parceira do Instituto Caldeira e também uma das fundadoras e mantenedoras do Instituto Hélice, na Serra Gaúcha.

“Os primeiros estudos para o desenvolvimento do micro-ônibus autônomo reforçam o conhecimento e o potencial de inovação da engenharia nacional. Além disso, nos insere no seleto grupo de países que estudam a viabilidade da tecnologia, como Estados Unidos, Alemanha e China”, defende João Paulo Ledur, diretor de estratégia e transformação digital da Marcopolo.

O desenvolvimento do protótipo, com capacidade para 21 passageiros, tem apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) e conta com um sistema robótico avançado para trafegar de modo autônomo em situações específicas, como circuitos fechados de baixa velocidade. 

No entanto, o veículo só pode rodar em ambientes controlados, devido à legislação brasileira que impede veículos autônomos de circular em vias públicas.

“Escolhemos adaptar o Volare Attack 8, um veículo da Marcopolo consolidado no mercado. Foram instalados módulos de comando elétricos e pneumáticos para controlar a direção, freios, acelerador e câmbio. No volante, por exemplo, foi colocado um drive elétrico para rotação da direção”, explica o analista sênior de inovação da Marcopolo Next, Eduardo Kakuichi.

O veículo conta ainda com um computador de processamento de dados e um conjunto de sensores – composto por quatro LiDAR (Light Detection and Ranging – Detecção e Medição de Distância por Luz), instalados nas laterais dianteira e traseira, uma câmera, unidade de medição inercial (IMU) e GPS – que possibilitam observar o ambiente ao redor, como velocidade instantânea, estado do câmbio, entre outros. Todos os dados são passados para o computador de processamento de dados, que comanda o funcionamento do micro-ônibus. 

Os ciclos de testes do protótipo iniciaram em dezembro de 2022. Com o sucesso da etapa inicial, ocorreu a primeira avaliação em ambiente operacional real em março deste ano, na siderúrgica ArcelorMittal Tubarão, selecionada como cliente-parceiro testador.

Segundo Kakuichi, o protótipo também tem sido usado para estudar a experiência do consumidor (CX, na sigla em inglês) em veículos autônomos. “Temos visto que os passageiros ainda sentem medo pela falta do motorista, assim como os pedestres, que ficam receosos em atravessar na faixa mesmo quando o carro está parado”.

“O protótipo ainda não é o produto ideal do autônomo, até porque o carro autônomo do futuro não vai precisar do cockpit do motorista”, acrescenta o analista, lembrando que os testes e aperfeiçoamentos seguem a todo vapor.

Para Ranik Guidolini, diretor executivo da Lume Robotics, o primeiro micro-ônibus autônomo do hemisfério sul é um marco tecnológico. “Graças à parceria da Lume e a Marcopolo, o Brasil se coloca entre o seleto grupo de países que dominam a tecnologia. Estamos falando de um projeto capaz de entregar ganhos de segurança e eficiência operacional aos sistemas de mobilidade”, avalia.

Apresentação do micro-ônibus autônomo da Marcopolo. Divulgação: Marcopolo.

Sobre a Lume Robotics

A Lume Robotics é uma startup fundada em 2019 por pesquisadores participantes do Projeto IARA (Intelligent Autonomous Robotic Automobile) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), iniciado em 2009.

A tecnologia de mobilidade autônoma desenvolvida pela Lume Robotics consiste num sistema robótico avançado, composto por hardware e software próprios, que conferem a um veículo de qualquer porte a capacidade de trafegar em modo totalmente autônomo, isto é, sem motorista nem teleoperador, em regiões mapeadas. 

O sistema é capaz de criar os seus próprios mapas e rotas de uma determinada região, possibilitando que o veículo trafegue autonomamente, escolhendo o melhor trajeto, evitando obstáculos estáticos e dinâmicos, lidando com todos os elementos de trânsito, para alcançar os destinos escolhidos.

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