IA em sala de aula e aprendizagem ativa: a Metodologia Lumiar em tempos de inovação

Uma educação que fomenta o pensamento crítico, gera interesse pelo aprendizado e desperta a inquietação é o caminho para formar pessoas preparadas às ondas de inovação que estamos vivendo. Mas até quanto o ensino tradicional tem conseguido atingir esse resultado? Na visão de uma das escolas mais inovadoras do mundo, o modelo atual não se encaixa mais.

Eleita pela Unesco, Universidade Stanford e Microsoft como uma das 12 escolas mais inovadoras em atividade, a escola Lumiar passou a ocupar o Instituto Caldeira no início deste ano, usando as salas da universidade Atitus com turmas de Ensino Médio.

Propondo o avesso da metodologia convencional, a rede de escolas Lumiar usa o modelo de aprendizagem ativa – o mesmo usado na Finlândia -, onde alunos e professores decidem juntos o que será ensinado em sala de aula.

A sinergia com o ecossistema de inovação casa com a proposta fora da caixa da instituição, em que tabus contemporâneos caem por terra. Por exemplo, a tecnologia faz parte do cotidiano dos alunos, que inclusive usam ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, em dinâmicas de aula.

Estudantes, familiares e professores também têm acesso à plataforma Mosaico, software que concentra todas informações e rotina dos alunos, conteúdos didáticos e planejamento multidisciplinar do corpo docente. A ferramenta oferece um mapeamento visual da Base Nacional Comum Curricular, expectativas de aprendizagem e desenvolvimento das habilidades em tempo real.

A educação tradicional já não serve mais, está produzindo pessoas para uma sociedade do século 19. Ou a gente muda a educação ou toda a onda de inovação não servirá para nada, diz Soledad Gomez, diretora do Colégio Lumiar Porto Alegre.

Segundo a pedagoga, o modelo atual de ensino, tal como preconizava o filósofo Michel Foucault há 50 anos no livro ‘Vigiar e Punir’, impõe quatro horas de conteúdos desinteressantes, com 20 minutos de “banho de sol” – para a “produção de corpos dóceis”, algo bem similar ao sistema penitenciário.

Já no modelo de aprendizagem ativa, o currículo não linear é dividido em projetos trimestrais, que trabalham uma combinação de habilidades e conteúdos, definidos pelo interesse dos alunos com a mediação dos professores. Essa lógica demanda uma desconstrução constante do corpo docente, pois o professor precisa ser referência na sala de aula, mas não uma autoridade, explica Soledad.

Além disso, a metodologia é multietária, com alunos de diferentes idades interagindo em cada uma das fases escolares.

Diante dessa disrupção, o case de educação da Lumiar em Porto Alegre tem sido difundido em todo território gaúcho. Com apoio do Sebrae-RS, o modelo já foi apresentado para 200 secretários municipais de Educação.

E não para por aí… Através de parceria com a Atitus, sediada no Caldeira, a Lumiar está desenvolvendo os itinerários formativos para alunos do Ensino Médio, compartilhando a vivência da universidade com os estudantes em vários projetos ao longo do ano.

Precisamos escalar o que é feito pela Lumiar, pois somos uma gota no oceano. Isso depende de um casamento entre poder público e iniciativa privada. Temos que pensar na educação do agora.

Soledad Gomez, diretora do Colégio Lumiar Porto Alegre. Créditos: Instituto Caldeira.

O cotidiano de uma escola inovadora

Em um dos projetos trimestrais escolhidos por uma turma do Ensino Médio, os alunos queriam aprender a física do cotidiano, conta a diretora. A partir disso, os jovens propuseram indagações como: Por que a pessoa toma banho pelada em um chuveiro elétrico e não toma um choque? Como funciona uma pilha? Por que uma panela de pressão pode explodir?

Outra turma se interessou pela questão da guerra no leste europeu, entre Rússia e Ucrânia. O projeto foi intitulado “Tô Putin”, e se voltou a entender as questões econômicas e geopolíticas do conflito.

Já as crianças do Ensino Fundamental queriam aprender sobre detetives. O professor usou esse interesse para trabalhar questões envolvendo a metodologia científica, como dedução e intuição, a partir dos contos de Sherlock Holmes. O projeto “Quem comeu meu pote de Nutella” fez da escola a cena de um crime, onde os alunos eram detetives.

Mas dentro disso, a gente trabalha todos conteúdos curriculares, tanto é que temos alto índice de aprovados no vestibular. Em 2022, a unidade de Porto Alegre teve 100% de taxa de aprovação, enfatiza Soledad.

Os estudantes da Lumiar também são ativos em outras áreas além da base curricular. Toda semana, eles se reúnem com professores e funcionários para avaliar o bom andamento da escola. Também participam de reuniões para soluções de conflitos, como o bullying.

Lumiar no ensino público

Para que o modelo disruptivo de educação não fique restrito a uma elite financeira, o Instituto Lumiar também leva a metodologia da rede ao ensino público, através de parcerias com governos e entidades sem fins lucrativos. Atualmente, a Lumiar tem cinco convênios com a Prefeitura de Porto Alegre que usam o modelo de aprendizagem ativa.

Em 2019, a rede firmou o convênio para a primeira escola de Ensino Fundamental, sediada na Aldeia da Fraternidade. A escola atende 217 alunos, do 1º ao 9º ano, divididos em nove turmas.

Desde 2020 também está presente em escolas de Educação Infantil na Ilha da Pintada, Cavalhada, Santo Expedito e Vila Nova. A parceria envolve a implementação da Metodologia Lumiar, formação de professores e a licença para utilização da plataforma Mosaico.

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