Fuga do venture capital abre caminho para decisões mais arrojadas dos founders, dizem gestores VC
Os investimentos em capital de risco (venture capital) estão cada vez mais criteriosos e o mercado deve seguir assim diante de um cenário global de instabilidade na economia. Além disso, os fundos de venture capital também pisam no freio para nivelar a balança de aporte, visto que 2020 e 2021 foram anos de festa e fartura para as startups, registrando recorde de US$ 9,43 bilhões em captações.
De acordo com estudo da Distrito, neste 1º trimestre houve queda de 86% em investimentos para startups brasileiras.
Os fundos buscam no mercado empresas em estágio inicial, cujos frutos financeiros serão colhidos em 6 ou 7 anos, e que vão demandar cheques de até R$ 500 mil por rodada, entendem gestores de alguns dos principais fundos do Brasil. Os anos de muita fartura e investimento fácil para as startups ficaram para trás, e segundo eles, isso condicionou mal o mercado, que agora busca nivelar a balança.
Os fundadores de startups vão precisar ser mais criativos, trabalhar com menos recursos e encarar remédios amargos para seguir no rumo da inovação, diz Pedro Waengertner, cofundador da ACE Startups.
A empresa faz aportes em startups em estágios iniciais, especialmente pré-seed, e eventualmente seed, com cheques de R$ 500 mil a R$ 2 milhões.
Em meio a um cenário com menor fluxo de capital, as decisões dos empreendedores e o resultado delas nos negócios são o que irá distinguir os que vão crescer e os que ficarão no meio do caminho. Essas decisões, em alguns casos amargas, foi o tema de um dos painéis do South Summit Brazil 2023, realizado em Porto Alegre.
Além de Waengertner, o painel contou a presença de Rodrigo Baer, cofounder da Upload Ventures; Marcos Toledo, cofounder da Canary e Igor Piquet, head Latino América da Endeavor.
“O que a gente tem falado para os fundadores é que estamos em meio a uma crise de liquidez. Para navegar nessa crise de liquidez, o fundador precisa cortar custos, quando é possível, ou captar recursos de forma criativa, mesmo que ‘em termos ruins’, como levantar um down round ou uma dívida mais estruturada”, diz Toledo, da Canarian.
Outro ponto é que, durante a festa do capital de risco, muitas startups contrataram pessoas desenfreadamente e layoffs que têm sido divulgados no último ciclo são respostas a essas decisões.
Escuto muitos relatos de startups que precisaram cortar pessoal e se tornaram mais eficientes. Outro lado bom dos layoff que já ocorreram é que tem muita gente boa disponível hoje no mercado, então é o momento ideal para reformular times, diz Baer, da Upload Ventures.
Na visão de Piquet, da Endeavor Latam, os layoffs também são positivos para ver quanto os negócios conseguem rodar com menos gente e forçar um pouco mais de tecnologia. “Antes, com a abundância de capital, os negócios eram muito baseados em pessoas e a tecnologia ficou em segundo plano”, acrescenta.
Além disso, a relação entre os founders também será definidor do sucesso ou da ruína do negócio.”Das companhias que a gente investiu, 20% tiveram divórcios de founders”, afirma Toledo. A maior parte dessas separações é porque os gestores não se conheciam muito bem antes de montar o negócio. O caso contrário também acontece com frequência: sócios separados que eram amigos de escola.
“É importante que haja um alinhamento de valores, para não chegar na primeira oferta de compra do negócio e um sócio já esteja pesquisando o carro que vai comprar depois de vender a empresa, enquanto o outro não cogita vender”, diz Baer.
Os gestores indicam que os sócios façam founders vesting, que são contratos para evitar a diluição de capital com a saída de um dos sócios, que vão precisar vender suas ações a um valor abaixo do que compraram se alguma das partes quebrar o contrato.