Cláudio Coutinho: não podemos subestimar a capacidade de competição dos bancos brasileiros

Grande referência em tecnologia financeira, muitas vezes à frente dos maiores bancos brasileiros no lançamento de soluções inovadoras, o Banrisul está atento para o futuro do setor, que passa pela desconcentração, com a entrada de novos players como as fintechs, e pela necessidade de garantir uma melhor experiência dos usuários com os serviços financeiros. Uma das respostas para esse novo posicionamento, além do reforço dos investimentos da área de tecnologia interna, é a construção de uma estratégia de conexão com os ambientes de inovação. Neste sentido, uma das decisões anunciadas recentemente foi o lançamento do hub de inovação BanriTech, que conta com quatro pilares: Hub.Space, Hub.Startup, Hub.Venture e Hub.Education. Outra aposta é no Instituto Caldeira, iniciativa da qual o Banrisul é fundador e que conta com uma atenção especial do presidente da instituição, Cláudio Coutinho. “Essa iniciativa é fundamental para a retenção de talentos locais e o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Vamos criar um caldeirão de inovação, e um ecossistema que vai se retroalimentar e gerar novos negócios”, projeta. 

Instituto Caldeira – O setor financeiro está vivendo uma das maiores revoluções das últimas décadas. Qual a sua análise sobre esse cenário de desconcentração que vem pela frente?

Cláudio Coutinho – O cenário para a área financeira é realmente desafiador, com muitas mudanças na forma de fazer negócios e com os processos regulatórios que estão em andamento, e que vão mudar a cara do mercado. Primeiro foi o PIX, que entrou em vigor, e agora em fevereiro teremos a primeira fase Open Banking. A agenda do Banco Central de aumento da concorrência e desconcentração vai transformar o ambiente do mercado financeiro. Esse setor vai ficar mais competitivo e os diversos players que estão entrando vão poder crescer em cima da base criada pelos grandes bancos. A competição será cada vez mais agressiva.

Instituto Caldeira – Medo ou oportunidade? Que sentimentos esse novos entrantes provocam?

Coutinho – O desafio dos novos bancos e dos incumbentes é o mesmo: levar uma boa experiência para os clientes e se rentabilizar com isso. Os caminhos para chegar a isso é que são um pouco diferentes. As fintechs conseguem criar soluções mais rapidamente, de fato. Assim, podem obter uma vantagem, mas apenas temporária, pois essas tecnologias logo depois são incorporadas pelos grandes bancos. Diversos destes novos entrantes inovadores estão desenvolvendo soluções para os grandes bancos, que são os incumbentes. É o caso das de onboarding digital. Começou com os bancos digitais, de fazer todo cadastro de forma digital para abrir uma conta, e hoje todos têm. As fintechs são desbravadoras, mas não quer dizer que o que elas criaram não seja usado pelos grandes bancos. As fintechs são bem vindas, pois vão trazer inovação, mas elas estão encontrando uma concorrência competente e com capacidade financeira e estrutura para desenvolver grandes projetos. Não é trivial fazer o que os grandes bancos fazem. Só no Banrisul, temos mais de 1 mil pessoas nas áreas de TI, inovação e desenvolvimento de produtos. 

Instituto Caldeira – Por que as fintechs estão conseguindo avançar tão rapidamente?

Coutinho – As fintechs conseguiram construir uma experiência de cliente muito positiva. Isso é algo muito benéfico. Porém, isso acontece também porque eles geralmente têm poucos produtos e têm como público-alvo os jovens, que ainda não têm demandas muito sofisticadas junto ao setor financeiro. O grande desafio se dá quando pensamos na diversificação do portfólio, quando se tem de 50 a 60 produtos, como é o que as grandes instituições oferecem. Aí, é outro nível. 

Instituto Caldeira – Como o Banrisul tem incorporado essas novas tecnologias? 

Coutinho – Temos um histórico importante em inovação e desenvolvimento. O Banrisul sempre teve uma fonte capacidade de TI, e isso nos ajuda muito a enfrentar a competição. A Vero, por exemplo, é líder no Rio Grande do Sul, e é uma iniciativa que começou do zero e hoje está à frente da concorrência fornecendo uma série de ferramentas inovadoras. Temos a nossa agência digital que possibilita que os correntistas não precisem mais ir à agência para assinar documentos, por exemplo. Vamos, paulatinamente, agregando ao Banrisul inovações positivas que gerem qualidade na oferta aos nossos clientes. 

Instituto Caldeira – O legado de tecnologia do setor financeiro brasileiro é um ponto importante para ajudar os grandes players nesse momento em que todos precisam se transformar? 

Coutinho – Certamente. O sistema financeiro brasileiro é um dos grandes ativos da nossa economia. É sólido, eficiente e sempre investiu muito em tecnologia. Nunca faltou, ao setor produtivo real, apoio das instituições financeiras para ajudá-lo a fazer seus negócios. Ficamos muito eficientes em responder às demandas. Somos ultracompetitivos. Basta pensarmos na quantidade de bancos internacionais, referências lá fora, que entraram no mercado nacional e não conseguiram performar, crescer aqui. Não podemos subestimar a capacidade de competição dos bancos brasileiros. 

Instituto Caldeira – Como o senhor avalia o movimento pela inovação no Estado, como o Caldeira? 

Coutinho – O Instituto Caldeira é fundamental para o Rio Grande do Sul na medida em que vai estimular o nosso ecossistema e ajudar a reter os nossos talentos aqui. Estamos criando ali um espaço de conexão diferenciado, que vai aproximar os empreendedores inovadores de empresas que poderão, de fato, apoiá-los. É um ambiente efervescente, que reúne nomes com uma visão 

espetacular do mercado, como José Galló, Marciano Testa, Pedro Valério, e tantas outras cabeças brilhantes. Vamos criar um caldeirão neste ecossistema que vai se retroalimentar e gerar muitos frutos para o Rio Grande do Sul e novos formas de fazer negócios. Em 2021, com a inauguração dos espaços para os labs das empresas, o Caldeira se tornará uma realidade para o mundo. Para nós, ele já é.