A tecnologia que você está criando te orgulha ou te assusta?

As empresas de tecnologia têm que tomar para si a responsabilidade frente às consequências que o uso de suas soluções podem trazer ao mundo. Embora a afirmação possa parecer óbvia, a responsabilidade no mundo tech é algo ainda muito etéreo, que precisa ser tratada de forma prática e pragmática, com as companhias questionando-se sempre. Esta é a visão de Marta Saft, diretora presidente Thoughtworks Brasil, uma das maiores consultorias globais de tecnologias, que desenvolveu o conceito de desenvolvimento ágil de software. Marta foi a convidada ilustre do Caldeira Recebe e escolheu falar, justamente, sobre tecnologia responsável. 

E tudo pode se resumir numa auto reflexão bem simples: o futuro que você está construindo a partir de uma nova tecnologia te orgulha ou te assusta? É um futuro que você quer que seus filhos vivam?

 A gente faz essa escolha pela jornada responsável quando somos criteriosos sobre com quem nos alinhamos no mundo dos negócios, como pensamos as soluções e até a partir dos produtos que consumimos no dia a dia, diz a diretora presidente da Thoughtworks Brasil.

As soluções de tecnologia não existem à parte da sociedade. Pelo contrário, segundo Marta, elas são criadas e reproduzem, muitas vezes, a mesma dinâmica de poder e interesse causadores de várias disfunções sociais. Por isso, é preciso ter a responsabilidade de olhar para isso de forma ativa.

Embora a indústria da tecnologia não tenha uma declaração análoga ao Juramento de Hipócrates, as empresas precisam considerar e assumir as responsabilidades com as pessoas que usam essas tecnologias. Mas como traduzir isso na prática?

De acordo com que a líder da Thoughtworks Brasil falou no Caldeira Recebe, a tecnologia responsável é a consideração ativa dos valores e consequências não intencionais e impactos negativos da tecnologia. Ela inclui uma ampla variedade de vozes nos processos de adoção e implementação, e busca administrar e mitigar os potenciais riscos e danos a todas comunidades afetadas por essa tecnologia. 

“Isso precisa ser feito de uma forma ativa, transversal e constante, alinhando a forma de trabalhar com os  interesses da sociedade. Não existe uma decisão dentro do processo de negócio que seja o carimbo da tecnologia responsável”.

Além disso, o conceito também está muito alinhado com as boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance, ou Meio Ambiente, Social e Governança), que se refere à responsabilização da empresa frente a essas três palavrinhas. Criada em 2004, as práticas de ESG são hoje essenciais para a reputação e sobrevivência das empresas. 

É preciso ter um olhar ativo sobre os impactos da tecnologia, diz Marta. Créditos: Instituto Caldeira

Adoção da tecnologia responsável no mercado

No mesmo sentido, a adoção da tecnologia responsável também tem crescido dentro das corporações. Esse movimento foi apresentado em um relatório sobre o tema, produzido pela Thoughtworks em parceria com a Massachusetts Institute of Technology (MIT), e publicado em 2023.

Foram entrevistadas 550 pessoas executivas em mais de 9 países para tentar entender qual o estado da tecnologia responsável dentro dos seus negócios. De acordo com o relatório, esse é o cenário:

73% dos entrevistados dizem que o uso da tecnologia responsável se tornará tão importante quando considerações de negócio ou financeiras na tomada de decisões de tech;

67% dos respondentes dizem que a sua organização tem orientações e metodologias de responsabilidade tecnológica;

52% disseram que a principal motivação para investir em práticas responsáveis era a melhoria da percepção dos clientes da empresa;

52% disseram que o maior desafio para a adoção do conceito é a falta de conhecimento da liderança;

O relatório ainda elenca os três principais benefícios da prática: melhora na aquisição e retenção de clientes, percepção de marca e minimização de consequência negativas não-intencionais associadas a risco de marca.

Veja o Caldeira Recebe completo com Marta Saft, diretora presidente Thoughtworks Brasil.